19 novembro 2012

Tormenta... ou como o amor se consome.

Se lembrava daquelas noites enfumaçadas dentro do carro, onde ambos gesticulavam e se acusavam num delírio histérico por horas a fio. Haviam ultrapassado o limite da razão em algum ponto que não conseguiam identificar, e naqueles momentos era como se ambos se transformassem em versões demoníacas de si mesmos. 

Enquanto vociferavam, ela sentia uma febre intermitente tomar-lhe o corpo, fazendo cada músculo seu queimar e sua mente entrar em delírio febril. Sua visão ficava turva na medida em que era atingida pelas faíscas vindas daqueles olhos camaleônicos - era como se aqueles olhares a penetrassem a ponto de queimar-lhe as retinas. Tinha medo de que talvez, se ele a tocasse, aquelas mãos de toque sutil e delicado habitualmente, a perfurassem, e talvez se consumissem no calor de suas vísceras. 

Ele, por sua vez, se sentia invadido por uma voz aguda e irritante que o ensurdecia e o fazia desconhecer a voz macia e terna daquela mulher ao seu lado; tinha a impressão de que naqueles momentos, tomado pelo pelo torpor que aquela voz causava, ficaria imóvel sentindo as garras dela a lhe retalhar a pele. 

As horas pareciam se arrastar naquelas noites em que não conseguiam enxergar nada mais que não fosse seus próprios caprichos e a necessidade doentia de submeter o outro ao próprio jugo. Se consumiam em acusações, ofensas, em suas próprias vaidades, e no medo de cruzar a linha e perder o outro ali, no meio daquele delírio surreal causado pelo desequilíbrio de ambos.

Numa dessas noites enfumaçadas, foi diferente... enquanto aquelas almas perdidas de si eram intransigentes, mesquinhas e caprichosas entre gritos, palavrões e dedos apontados para o outro, alguma coisa aconteceu. Os ânimos arrefeceram e a febre e a surdez tiveram seus lugares tomados - os olhos camaleônicos clarearam e ela sentiu o toque habitual em sua pele; ele, por sua vez, ouviu a voz macia enquanto ela lhe acariciava o rosto. Por um momento, perderam seus aspectos demoníacos para se tornarem um ser só. Talvez naquela noite tivessem baixado a guarda, talvez tivessem descoberto o amor num estalo. Mas ambos não sabiam dizer ao certo o que havia acontecido... porque depois daquela noite, haviam se tornado somente cinzas. 

Explicações (des)necessárias

Depois de um longo hiato, eis que volto aqui pra continuar a festa. No exercício do exorcismo, do livre pensamento e da manifestação do espírito de porco zombeteiro que habita meu corpo. Se você está lendo isso e está a fim de continuar, peço que desperdice seu tempo com minhas linhas. Leia, comente, critique.

E vamos que vamos!


Frase da fase: Lembre-se de sempre ousar.