31 agosto 2005

Tampa

Toda panela tem tampa. Resignei-me a ser uma frigideira.

Alheios?

Ela anotava suas impressões sobre ele em um papel azul, enquanto ele lia um artigo qualquer, deitado na cama do lado oposto do quarto. Ela achava engraçada a maneira como se ignoravam, como era fácil para ambos se transportarem para outro mundo, como se nada mais existisse e assim permanecer sem expressar nenhuma emoção. Continuou com suas anotações até perceber que jamais conseguiria traçar um perfil daquele ser indiferente; desistiu e olhou na direção dele. Flagrou-o observando ela por cima da folha que estava lendo. Ele enrubesceu, ela sorriu. Não eram tão indiferentes assim.

30 agosto 2005

Fila

Uma velha colega do colégio puxou papo com ela na fila para o ônibus, que saía da faculdade para Aparecida.
- Oi, você faz o que aqui?
- Direito, e você?
- Tá em que ano?
- Segundo. E você?
- Ah, faço Matemática, estou no segundo.
- São quantos anos?
- Três.
- Bom, hein? Ano que vem já estará formada.
- É.
- Passa rápido.
- Passa mesmo. E você, já casou?
- Não.
- Ah...
Ela subiu no ônibus meio perplexa. De repente, foi como se o objetivo da vida fosse casar. Parou e pensou uns minutos, decidiu nunca mais dirigir a palavra àquela moça estranha.

29 agosto 2005

Killing me softly

Hoje é dia mundial do combate ao fumo.
Eu sou fumante.
Depois de tentar parar de fumar inúmeras vezes, resolvi aderir ao pensamento de um amigo; segundo ele, estou na idade de adquirir novos vícios e não de abandoná-los.
Então, em sinal de protesto, vou acender mais um e me matar mais um pouco, consciente e politicamente incorreta como acho que devo ser.

28 agosto 2005

Conselhos do Sr. Sattã*

- Me dá um bom conselho... o que eu faço com uma pessoa parecidíssima comigo?
- Leva no motel e afoga na hidro!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
- Vou anotar pra posteridade. Aliás, vou publicar isso no blog.
- E se achar que num dá conta sozinha, leva uma amiga junto... O infeliz morre achando que vai se dar bem...
- É, melhor levar mais uma, eu não dou conta...




* Não há nada melhor do que um amigo sincero. A.E.A.V. ;-)

24 agosto 2005

23 agosto 2005

A teoria da roceira

Quando eu tinha uns 17 ou 18 anos, não me lembro ao certo, era cheia de teorias e idéias a respeito da vida e do futuro que me esperava. Partilhava as mesmas idéias comigo, uma amiga muito querida; passávamos as tardes discutindo e fazendo planos pros próximos meses, anos... Ela se formaria em jornalismo e eu em direito, moraríamos juntas, teríamos uma cafeteira e vários primos viriam nos visitar nas festas em que faríamos no nosso apartamento.
O tempo foi passando e o futuro foi se transformando em uma realidade muito diferente daquela que tínhamos imaginado. Ela engravidou - sou madrinha da filha dela(como havíamos prometido uma a outra), se tornou PM, está noiva e acredito que seja feliz. Depois de muita porra-louquice, eu entrei em direito, larguei, fiz quase um ano de jornalismo, larguei e voltei pro curso que realmente é meu amor - o direito. Tenho momentos de felicidade - sem reclamações, não acredito em felicidade contínua, e ando tocando o barco.
Daquela época, só sobraram as boas lembranças e a teoria da roceira: na época, o ideal era ser uma daquelas meninas que moram n'algum fim de mundo, que naquela idade, provavelmente já estaria casada e feliz com algum conhecido de longa data. E a felicidade toda se resumiria na "vidinha": maridinho, filhos, trabalho doméstico, fofocas com a vizinha e assistir a novela das 8. Sem perspectivas, sem horizontes, mas feliz.
Não nascemos uma dessas meninas, cada uma fez o que quis com o seu destino. Às vezes me questiono se poderíamos ter sido mais felizes ou ter feito coisas diferentes, mas sempre acabo concluindo que, independemente da situação, o melhor momento da vida é sempre aquele que estamos vivendo. Particularmente, vivo um momento excepcional, tenho consciência de quem e do que sou, e do que quero. Não tenho uma "vidinha", nem a vida que imaginava que teria, mas pelo menos não tenho que assistir América, e me sinto muito feliz assim.

20 agosto 2005

Observações.

- Vida estranha.
- Pessoas estranhas.
- Situações estranhas.

Hoje realmente eu queria ter nascido algum bicho que valesse a pena. Uma hiena, por exemplo. Carniceira, sarcástica... ah, seria questão de pouquíssimas adaptações.

Quanto mais eu o observo, mais quero entendê-lo. E parece que cada vez consigo menos. Querer tem que ser poder pelo menos uma vez. Droga de lei de Murphy.

E pra acabar, a frase da semana: "Chocolate é coisa de gente carente."

19 agosto 2005

Sorrisos

Contava-lhe suas histórias enquanto ela o observava atentamente e sorria. Entre uma história e outra, ele perguntava o motivo do sorriso e ela dizia que não era nada e continuava sorrindo. No íntimo, ela só conseguia pensar em como ele conseguia levar o monólogo adiante, ignorando a presença dela ali, como se conversasse consigo mesmo. Ele não conseguia entender o porquê do sorriso e do silêncio, sentia-se estranho diante da indiferença dela.
Ela prestava atenção nas pintas que ele tinha no braço direito quando o ouviu dizer que estava cansado; decidiu ir embora. Levantou, vestiu-se e o beijou. Já no carro, abriu um último sorriso, e dessa vez ele também sorriu. Talvez fosse a última vez, talvez fosse uma dessas vezes ruins, só o tempo diria.

09 agosto 2005

Carne

Foi a última noite. Acordou cedo, havia dormido com a cabeça encostada no peito dele, que estava gelado. Olhou a sua volta, havia sangue no chão do quarto, nas paredes, no lençol, em seu corpo. Mas ele estava ali, imóvel, a pele muito branca e pálida, sem vestígios de sangue ou mesmo de sangue correndo nas veias. Tentou enxergar algum corte em sua própria pele, sem sucesso.
Não conseguiu mover o corpo dele dali, não tinha forças. Não conseguiu nem chorar. Percebeu que dessa vez ele tinha ido embora definitivamente, mas não tinha conseguido levar a alma dela como havia prometido; em vez disso, ele simplesmente a desfez em sangue e espalhou ali. A partir daquele dia, ela se tornou apenas carne.

Crimes passionais

Era o título da palestra que abriu a semana jurídica na faculdade. Na verdade, a palestrante foi mais vender o livro dela do que acrescentar algo novo, mas mesmo assim foi uma das palestras mais divertidas que assisti, ela era um tipo extremamente espirituoso - o que é raro em se tratando de palestrantes em Direito.
Entre os risos e os aplausos - principalmente da platéia feminina - ela foi contando casos famosos de crimes passionais, fazendo uma observação aqui e ali sobre as leis, os costumes da época e a alegação de legítima defesa da honra por parte da defesa. Segundo ela, a grande maioria dos crimes passionais são cometidos por homens, e uma das características desses crimes são que as vítimas geralmente são desfiguradas, numa tentativa do agressor de se desvincular da imagem da vítima - o que particularmente achei curioso, mas psicologia criminal não é minha área, então não vou me atrever a palpitar.
Em relação às mulheres, o índice desses crimes é pequeno - o que me causou espanto, pois achava que elas também matassem bastante por amor. Mas depois acabei lembrando que a vingança feminina geralmente se resume a arranhar o carro, fazer escândalo ou infernizar o pobre infeliz o resto da vida.
Embora uma das perguntas principais da palestra fosse sobre a possibilidade de quem ama matar, o que mais me deixou pensativa foi a diferença entre o comportamento de homens e mulheres diante da mesma situação. Por que matar se simplesmente é mais simples torturar o objeto amado aos poucos?

Começo de semana

*Tentando organizar um churras.
*Tentando disfarçar a cara de boba.
*Tentando prestar atenção nas palestras sem ficar fazendo piadinhas.
*Tentando fumar menos.
*Tentando não ficar histérica.

Respostas que eu gostaria de ter dado

- Hein, Mari, você não sente frio no peito com esse decote todo não?
- Você não sente dor no cérebro quando pensa e pergunta uma coisa dessa?

05 agosto 2005

Mais uma noite

Chegou em casa bêbada como de costume.
Tirou a roupa e jogou pelo quarto.
Vestiu a primeira camiseta que encontrou no escuro.
Deitou-se na cama e adormeceu enquanto o quarto girava.
Acordou sobressaltada no meio da madrugada.
Sentiu o cheiro dele no quarto, na cama, no lençol, na pele dela.
Chorou.
Sentiu-se um pouco mais humana.
Dormiu sorrindo, num misto de frustração pela ausência dele e felicidade por sentir algo. Talvez o amasse. Talvez fosse apenas mais um porre.

Cavalos e jujubas

- Sofrer por antecipação é coisa de gente masoquista.
- Sempre achei que fosse normal, pô.
- Normal? Acordaaa!
- Ah, tá, só um poquinho masoquista...
- ...
- Tá, confesso.
- E o futuro?
- Se eu falar o que acho, apanho.
- Pode apostar...
- Então, passe as jujubas enquanto eu tento selar o cavalo.

03 agosto 2005

Esperar

- Cadê a negra?
- Ainda não chegou...
A campainha tocou. Lá estava ela, com aquele andar estranho de sempre, parecia que ia cair do salto.
- Oi, tava sem chave...
- Vim correndo, ele não ouviu.
- Tá dormindo já?
- Não, estava esperando você chegar.
- Vou lá falar com ele.
Foi até o quarto, onde ele estava sentado vendo tv.
- Oi, general!
- Oi, preta, tudo bem?
- Jóia. Só vendo jogo, hein?
- É...
Ela saiu do quarto pensativa. Um dia chegaria em casa e ele não estaria mais lá esperando por ela. Ficou triste, mas a vida seguiu seu rumo. Decidiu aproveitar as esperas que restam.

Boletim pós-férias.

É, acabou. Voltamos à vida. Álcool só nos finais de semana, acordar cedo, dormir pouco, mau-humor ao acordar, sensação de que não vou ter tempo pra fazer nada, leituras, carro pra cima e pra baixo, menos tempo pra escutar o Kelly Jones, muitas pessoas, menos reclusão, noitadas esporádicas, estresse em épocas de provas, aumento sensível no número de tragadas. Quer saber? Amo muito isso tudo.
Só a saudade é que não passou. Mas essa é outra história. E amanhã, outro dia.

01 agosto 2005

Girl talk

Hoje de manhã, na minha enfadonha “viagem” pra Ubatuba, estava lendo uma dessas revistas femininas. Dentre os assuntos abordados, escolhi três: uma matéria sobre etiqueta sexual, dizendo o que se deve evitar ou fazer nos primeiros encontros com o cavalo do príncipe. Particularmente, achei a matéria bastante engraçada, mesmo porque um dos exemplos do que não fazer no quesito limites era não usar um vibrador sem conhecer direito o parceiro. Fiquei imaginando uma situação do tipo: você conhece um cara, o papo rola legal e vocês vão pro motel. Chegando lá, do nada você tira da bolsa o objeto, apresenta pro cara e ainda fala: “Querido, hoje vai ser à 3...”.
A segunda matéria escolhida era sobre produtos para eliminar e disfarçar olheiras, coisa que achei muito útil, já que as minhas são genéticas (descobri pela matéria) e tem dias que, por mais que eu durma bem, fico parecendo a última bagaceira que ficou na festa. Anotei o nome do creme, corretivo e vou me lembrar das compressas de chá.
Na última matéria havia 4 cardápios diferentes para diminuir o estresse, aliviar a tpm, aumentar o desejo e dormir melhor. Fiquei na dúvida: o que comer se estiver estressada, na tpm, com insônia e mesmo assim querer ter desejo pra aquela noitada com o cavalo do príncipe?
Particularmente, acho que hoje em dia as mulheres são muito cobradas e, o engraçado disso tudo, é que as cobranças partem delas mesmas (tá, a sociedade é machista, mas a mídia não é controlada só por homens). Porque chique é ser inteligente, bem resolvida, boa mãe, boa de cama, ter um corpo escultural, ser independente financeiramente, etc e tal. É uma neurose sem fim: você tem que estar impecavelmente vestida, maquiada, ter um corpo perfeito à base de dieta e malhação, ser culta, ser uma boa mãe e amante ao mesmo tempo e ser estável financeiramente. E ai de você se não conseguir se encaixar em um dos exemplos citados acima! Mesmo que se encaixe em todos os outros, o que faltou será motivo para inúmeras sessões no terapeuta, deprês e coisas do tipo.
O que eu questiono é: será que tudo vale a pena? Ok, todo mundo tem que cuidar do corpo, da mente, ser alguém na vida e etc, mas tudo precisa ser levado tão à sério assim? Quantas vezes o cavalo do príncipe já apareceu, num dia em que você estava deslumbrante pra ele, de calça jeans surrada, camiseta e barba por fazer? E aquele carinha que você namorou que não tinha um emprego tão bom, mas mesmo assim estava feliz? Quanto tempo levou pro cavalo do príncipe descobrir que a posição 29 de fevereiro era a sua preferida? Você gostou menos deles por causa disso? Será que eles eram menos realizados? Duvido muito. E também duvido muito que eles gostaram menos de você porque você se achava gorda, porque achava a sua performance horrível na cama porque não conseguiu ter um orgasmo, porque achava que não estava à altura dele financeiramente ou simplesmente porque seu cabelo tinha pontas duplas.
Acho importante ter consciência do que se quer para si, mas sem neuras. A vida é curta, então o melhor a fazer é se cobrar menos, relaxar e aproveitar o que você tem de melhor e o que a vida tem de melhor para te oferecer. Só deixo um lembrete: não é recomendável usar um vibrador na primeira vez com o cavalo do príncipe, o resultado pode ser desastroso.