09 agosto 2005

Carne

Foi a última noite. Acordou cedo, havia dormido com a cabeça encostada no peito dele, que estava gelado. Olhou a sua volta, havia sangue no chão do quarto, nas paredes, no lençol, em seu corpo. Mas ele estava ali, imóvel, a pele muito branca e pálida, sem vestígios de sangue ou mesmo de sangue correndo nas veias. Tentou enxergar algum corte em sua própria pele, sem sucesso.
Não conseguiu mover o corpo dele dali, não tinha forças. Não conseguiu nem chorar. Percebeu que dessa vez ele tinha ido embora definitivamente, mas não tinha conseguido levar a alma dela como havia prometido; em vez disso, ele simplesmente a desfez em sangue e espalhou ali. A partir daquele dia, ela se tornou apenas carne.

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