15 dezembro 2005

A definição do ano

Eu estava lá concentrada, estudando filosofia pra não tomar pau no exame quando chegou o email com a resposta do meu querido amigo me dizendo o que é ataraxia (Epicuro rulez).

Ataraxia: segundo João Paulo Nogueira Bassi, ato de ser tarado... ou tarada, depende do caso. Veja bem, como exemplo a Eliane sofe de ataraxia por homens feios, portanto sofre de tara (substantivo) axia ("axia" do grego = sofre de), portanto a Eliane tem taras por homens, assim como o grupo que anda com ela... conclusão, vocês são todas oferecidas.

29 novembro 2005

Observações e equivalência.

* sapato de bico quadrado equivale a um belo salto alto

* cueca boxer equivale ao conjunto espartilho, liga, calcinha e meia 7/8

* camisa dentro da calça é péssimo, a não ser que o homem esteja de terno

* terno é afrodisíaco

13 novembro 2005

E nessa vida(?) de fênix, convido a todos para o meu funeral. Bebam a defunta, por favor. Espalhem as cinzas por todos lugares possíveis. Quero renascer onipresente.

08 novembro 2005

Sexo

Ele costumava dizer que eu era a única mulher que falava de sexo como se fosse apenas sexo. Achava engraçado, já que sempre tive certeza que era só isso mesmo. Sexo é só sexo e sexo pelo sexo é ótimo e ponto final. Espantoso pra ele.
Só que quando ele me propôs sexo pelo sexo... bem, hesitei. As coisas não são tão simples assim. Sexo pelo sexo é ótimo sim. Mas não com ele. Sexo é apenas sexo. Mas não com ele. Espantoso pra mim. Às vezes o buraco é mais embaixo(sem nenhuma espécie de trocadilho). Não houve sexo. Nem pelo sexo, nem por outro motivo.
Certas convicções não são aplicáveis a todos os casos. Às vezes tem que ser especial, mas dessa vez foi uma das vezes em que não tinha que ser. Nada.

Insônia

Tudo perturba.
O som da rua.
O barulho do ventilador.
A respiração alheia.
O gato deitado nos meus pés.
Os lençóis.
O travesseiro.
A falta de posição.
A camiseta.
O pensamento longe.
A memória.
A minha loucura.
As costas.
Sempre as costas...

07 novembro 2005

Homens

* Ficaria horas a fio somente olhando para as costas do Rodrigo - na verdade, fecho os olhos e ela me vem perfeita à cabeça. É, a nuca também é bastante interessante. Isso tudo porque eu tenho sérios problemas em fixar a atenção em alguma coisa.

* As férias se aproximam e invariavelmente eu me lembro do Carlão. Desfilando só de calça pijama pela pracinha de Monteiro Lobato. E o tempo ficava quente, muito quente.

* Luís costumava me contar todas as suas aventuras e escapadas amorosas. Os detalhes eram tantos e tão bem descritos que tive vontade de experimentar. E experimentei. Deveria ter ficado só no imaginário, seria muito melhor.

* Guilherme conseguia despertar o que eu tinha de pior pra logo depois despertar o que eu tinha de melhor de maneira doentia. Um dia nos cansamos.

* Daniel seria perfeito se não fosse tão ingênuo. Ingênuo a ponto de achar que eu deixaria o Marcelo para ficar com ele.

* Deixaria toda a minha vida para trás se o Leonardo assim quisesse e ele sabia disso. Nunca usou isso contra mim ou a favor dele. Me amou o quanto deu e deixou as melhores lembranças possíveis.

* O lance com o Paulo foi platônico, me realizava só com a presença dele e com os comentários bobos durante as aulas de datilografia. Passou. Ele foi assassinado há 2 anos.

* O Michel, meu amor de criança, gostou de mim na segunda série. Eu gostava dele desde o primeiro dia de aula da primeira.

* Marcelo revirou minha vida de ponta de cabeça, me ensinou o que era sexo, sofrimento, paixão, tesão. Mas pulou fora quando eu estava aprendendo o que era amor.

* Gabriel me levou para a casa dele na primeira noite. Foi a primeira vez na vida que não cedi ao impulso. Ele ficou sem graça e não nos falamos direito desde então.

* Dudu foi meu professor em algumas noites solitárias. Graças a ele expandi todos os meus gostos.

* Ainda tenho vontade de me desmaterializar toda vez que vejo o Cláudio. O simples fato de saber que ele existe, intimida.

05 novembro 2005

Síndrome de abstinência

Pensar que eu vou ficar um final de semana inteiro, INTEIRO mesmo dentro de casa é algo assustador. Não vai ter música, nem gente rindo, nem barulho demais, nem álcool, nem fumaça de cigarro, nem nada! Uma loucura.
Por outro lado, vou ter tempo de sobra pra fazer algo útil - coisa que não faço há meses, tipo ler algo que preste, assistir algo um filme e principalmente, desligar. Eu quero muito achar meu botão off e apertar. E apagar.

...

Há dias em que todos os sonhos vão por terra e a única vontade que se consegue ter é a de sumir. Aí, a vontade passa e tudo são flores de novo até tudo vir por terra e assim sucessivamente...

Isso tem um nome, acho. Mas por enquanto, prefiro acreditar que são hormônios.

04 novembro 2005

Recomeço

Há meses ela não saía para caminhar no meio da madrugada - era um hábito estranho que tinha parado de cultivar logo depois do final do affair com ele -, mas aquela tinha sido uma noite atípica, por que não? Olhou no espelho para conferir se havia vestígios de maquiagem, pegou o maço de cigarros, a chave e saiu. Enquanto tentava refazer o caminho - já não lembrava qual esquina dobrar para chegar mais rápido ao mirante, pensava em como eles haviam se conhecido. Foi em um bar de jazz que ela costumava freqüentar com os amigos para desfrutar do ambiente noir, da boa música e claro, do bourbon. Começou a se lembrar das coisas que aconteceram desde aquela época... a promoção que conseguiu em seu emprego - chegou onde queria, no topo; as festas e os porres homéricos, tudo era motivo para celebração; a união e cumplicidade com os amigos, a família escolhida; o amor da sua vida que também a amava... chorou. Da felicidade daquela época não havia sobrado nem vestígios - tinha se tornado uma mulher amarga, cínica. Evitava o contato com os amigos, tinha pedido demissão do emprego, vivia enclausurada no seu mundo, que se resumia ao jazz e ao bourbon. Mas naquela noite tinha resolvido virar a mesa, fez umas ligações, vestiu seu melhor vestido, se maquiou e voltou ao bar onde tudo tinha começado. Por algumas horas, o passado se fez presente e ela se sentiu realmente feliz. Mas ali, naquela caminhada cega, nada mais fazia sentido, já que ele não estava lá e não queria saber dela. Não o culpava, sabia que tinha errado. Ele sabia que ela não podia ser fiel, mas não ser leal era imperdoável. Nunca mais teve notícias dele, era como se pra ele, ela nunca tivesse existido e isso a magoava profundamente.Chegou ao mirante, sentou-se em uma pedra e viu o sol nascer. Ainda o amava, e isso também já não fazia mais sentido. Decidiu voltar pra casa e deixar o passado ali. Recomeçaria.

03 novembro 2005

O dilema da garçonete

Olhou as mesas a sua volta, ficou pensativa... estava mesmo cansada de tudo aquilo. Num surto, arremessou a bandeja longe, atingindo o balcão, jogou o bloco de pedidos e a caneta no primeiro cliente que viu e rasgou seu avental. Saiu pela porta da frente daquele antro, para nunca mais voltar. A partir daquele momento nunca mais serviria, seria servida.

26 outubro 2005

Culpa

Acordei sem saber direito o que havia acontecido na noite anterior, até começar a sentir um gosto de bebida azeda cutucando a minha memória. A mente começou a trabalhar devagar, as cores foram aparecendo aos poucos, as cenas começaram a ter movimento e seqüência lógica. É, a noite anterior foi surreal, será que fiz o que não deveria? Não fiz nada que não quisesse fazer, e além do mais, não fui eu que acendi o pavio. De repente, a culpa se divide entre todos os personagens da noite anterior e se dissipa, fazendo eu me sentir mais leve e suficientemente solta para reviver o acontecido, experimentando todas as sensações sem pudores. O gosto da bebida se torna doce como na noite anterior. É, valeu a pena, fiz coisas que jamais faria em outra ocasião ou com outros personagens. E num estalo, percebo que é a manhã seguinte; logo mais estarei de novo com os personagens, aliás, estarei com os atores, já que os personagens se perderam enquanto amanheceu. O gosto azedo volta à boca e se torna amargo, o estômago revira. Corro até ao banheiro. Minha culpa se pronuncia.

20 outubro 2005

...

Alguém sabe onde fica o botão pra desligar o modo remoendo o que não se deve remoer?
Perdi meu manual de instruções...

09 outubro 2005

Dias e dias.

A gente repensa a vida e descobre que não nasceu pra amar, não tirou foto brega vestida de mocinha de 1800 e lá vai porrada pra colocar no orkut, não tem um amante bombeiro gostoso chamado Juvenal, não amadureceu o suficiente, não ficou com aquele menino quando tinha 12 anos, não tomou todos os porres que deveria, não terminou uma faculdade, não fez a lição de casa, não aprendeu abrir latas antes do 14 anos, não perdeu o fascínio nem o medo de cavalos, não tem coordenação motora suficiente pra desenhar algo além de um desenho palito, não esquece quem deve ser esquecido, não tira as caveiras por nada do armário, não mantém contato suficiente com os amigos mais queridos, não aprende errando, não deu ouvidos aos conselhos que deveria, não fez as concessões necessárias, não viajou pra fora do país, não conheceu alguém especial, não dormiu ao ar livre numa noite de lua, não assumiu o fato de ser extremamente passional... e nem por isso foi mais ou menos, foi apenas humano. Viveu o que pôde viver, como pôde e como conseguiu.

27 setembro 2005

R.I.P.

Depois de enterrar os mortos, a vida segue. É incrível como as pessoas se tornam indigentes na vala comum. Cruel e real. Mas no final das contas, quem se importa?

24 setembro 2005

Platônico

Eu gosto muito de estar com ele, de conversar, rir, chorar as mágoas às vezes, de dividir os sentimentos... quero conhecê-lo. Quero que me conheça. Mas por enquanto, é só um devaneio. É a jujuba mais gostosa que está escondida no fundo do pacote.

22 setembro 2005

Há de ter alguma teoria a respeito dos motivos que levam certas pessoas a só se interessarem por quem não se interessa por elas. Só masoquismo e falta de amor próprio é óbvio demais. Gostar de sofrer também. Será que isso tem a ver com alguma experiência de abdução? A verdade está lá fora? A verdade é apenas um produto da imaginação ou um mito inventado por alguma mãe desocupada no começo dos tempos pra pôr medo nos filhos com imaginação fértil? Vai saber...
Quem escreve pra exorcizar, põe o dedo aqui. ;-)

Acabei de perder um texto, tou puta. Num era pra ser...

18 setembro 2005

Dias negros.

café + cigarro + mente inquieta + deprê + semana de provas + hormônios = será que vou sobreviver?

Não lembro quem me disse isso, mas concordo em gênero, número e grau: o maior desafio da vida é sobreviver a si mesmo.

15 setembro 2005

Então...

Nesse mundo filho de uma puta e desbussolado, eu tou cada vez mais achando tudo horrível. Não que eu preste ou seja cheia de virtudes, bemmm longe disso, mas tem horas que dá vontade de jogar tudo pro alto. Pronto, falei.

13 setembro 2005

Riso

Ouviu ele dizer algo sobre querer um pouco de amor e o beijou, não porque estivesse disposta a dá-lo, mas para conseguir segurar a imensa vontade de rir daquela situação. Ele mal sabia o nome dela e provavelmente não sabia o que estava fazendo com ela ali. Talvez fosse tédio, falta do que fazer, carência, talvez tivesse achado ela gostosinha, por que não? Talvez ele fosse romântico, do tipo que se apaixona fácil.
Para ela, o caso dele era álcool combinado com carência e falta do que fazer... Mas e o caso dela? Pensou... É, era só tédio mesmo. Não acreditava em amor, e a sua paixão já tinha um dono que não a queria. Achava que esse tipo de distração faria com que ela talvez o esquecesse, e numa hipótese mais remota, talvez até se apaixonasse por outra pessoa. Sabia que isso era um erro, mas de qualquer maneira, nada fazia muito sentido para ela. No final das contas, se condenaria por ter rido dele, mesmo que fosse mentira, pois não conseguia mais admitir seu próprio cinismo. E depois riria de si mesma e de toda a situação, afinal de contas, o que é o amor quando se está de porre?

31 agosto 2005

Tampa

Toda panela tem tampa. Resignei-me a ser uma frigideira.

Alheios?

Ela anotava suas impressões sobre ele em um papel azul, enquanto ele lia um artigo qualquer, deitado na cama do lado oposto do quarto. Ela achava engraçada a maneira como se ignoravam, como era fácil para ambos se transportarem para outro mundo, como se nada mais existisse e assim permanecer sem expressar nenhuma emoção. Continuou com suas anotações até perceber que jamais conseguiria traçar um perfil daquele ser indiferente; desistiu e olhou na direção dele. Flagrou-o observando ela por cima da folha que estava lendo. Ele enrubesceu, ela sorriu. Não eram tão indiferentes assim.

30 agosto 2005

Fila

Uma velha colega do colégio puxou papo com ela na fila para o ônibus, que saía da faculdade para Aparecida.
- Oi, você faz o que aqui?
- Direito, e você?
- Tá em que ano?
- Segundo. E você?
- Ah, faço Matemática, estou no segundo.
- São quantos anos?
- Três.
- Bom, hein? Ano que vem já estará formada.
- É.
- Passa rápido.
- Passa mesmo. E você, já casou?
- Não.
- Ah...
Ela subiu no ônibus meio perplexa. De repente, foi como se o objetivo da vida fosse casar. Parou e pensou uns minutos, decidiu nunca mais dirigir a palavra àquela moça estranha.

29 agosto 2005

Killing me softly

Hoje é dia mundial do combate ao fumo.
Eu sou fumante.
Depois de tentar parar de fumar inúmeras vezes, resolvi aderir ao pensamento de um amigo; segundo ele, estou na idade de adquirir novos vícios e não de abandoná-los.
Então, em sinal de protesto, vou acender mais um e me matar mais um pouco, consciente e politicamente incorreta como acho que devo ser.

28 agosto 2005

Conselhos do Sr. Sattã*

- Me dá um bom conselho... o que eu faço com uma pessoa parecidíssima comigo?
- Leva no motel e afoga na hidro!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
- Vou anotar pra posteridade. Aliás, vou publicar isso no blog.
- E se achar que num dá conta sozinha, leva uma amiga junto... O infeliz morre achando que vai se dar bem...
- É, melhor levar mais uma, eu não dou conta...




* Não há nada melhor do que um amigo sincero. A.E.A.V. ;-)

24 agosto 2005

23 agosto 2005

A teoria da roceira

Quando eu tinha uns 17 ou 18 anos, não me lembro ao certo, era cheia de teorias e idéias a respeito da vida e do futuro que me esperava. Partilhava as mesmas idéias comigo, uma amiga muito querida; passávamos as tardes discutindo e fazendo planos pros próximos meses, anos... Ela se formaria em jornalismo e eu em direito, moraríamos juntas, teríamos uma cafeteira e vários primos viriam nos visitar nas festas em que faríamos no nosso apartamento.
O tempo foi passando e o futuro foi se transformando em uma realidade muito diferente daquela que tínhamos imaginado. Ela engravidou - sou madrinha da filha dela(como havíamos prometido uma a outra), se tornou PM, está noiva e acredito que seja feliz. Depois de muita porra-louquice, eu entrei em direito, larguei, fiz quase um ano de jornalismo, larguei e voltei pro curso que realmente é meu amor - o direito. Tenho momentos de felicidade - sem reclamações, não acredito em felicidade contínua, e ando tocando o barco.
Daquela época, só sobraram as boas lembranças e a teoria da roceira: na época, o ideal era ser uma daquelas meninas que moram n'algum fim de mundo, que naquela idade, provavelmente já estaria casada e feliz com algum conhecido de longa data. E a felicidade toda se resumiria na "vidinha": maridinho, filhos, trabalho doméstico, fofocas com a vizinha e assistir a novela das 8. Sem perspectivas, sem horizontes, mas feliz.
Não nascemos uma dessas meninas, cada uma fez o que quis com o seu destino. Às vezes me questiono se poderíamos ter sido mais felizes ou ter feito coisas diferentes, mas sempre acabo concluindo que, independemente da situação, o melhor momento da vida é sempre aquele que estamos vivendo. Particularmente, vivo um momento excepcional, tenho consciência de quem e do que sou, e do que quero. Não tenho uma "vidinha", nem a vida que imaginava que teria, mas pelo menos não tenho que assistir América, e me sinto muito feliz assim.

20 agosto 2005

Observações.

- Vida estranha.
- Pessoas estranhas.
- Situações estranhas.

Hoje realmente eu queria ter nascido algum bicho que valesse a pena. Uma hiena, por exemplo. Carniceira, sarcástica... ah, seria questão de pouquíssimas adaptações.

Quanto mais eu o observo, mais quero entendê-lo. E parece que cada vez consigo menos. Querer tem que ser poder pelo menos uma vez. Droga de lei de Murphy.

E pra acabar, a frase da semana: "Chocolate é coisa de gente carente."

19 agosto 2005

Sorrisos

Contava-lhe suas histórias enquanto ela o observava atentamente e sorria. Entre uma história e outra, ele perguntava o motivo do sorriso e ela dizia que não era nada e continuava sorrindo. No íntimo, ela só conseguia pensar em como ele conseguia levar o monólogo adiante, ignorando a presença dela ali, como se conversasse consigo mesmo. Ele não conseguia entender o porquê do sorriso e do silêncio, sentia-se estranho diante da indiferença dela.
Ela prestava atenção nas pintas que ele tinha no braço direito quando o ouviu dizer que estava cansado; decidiu ir embora. Levantou, vestiu-se e o beijou. Já no carro, abriu um último sorriso, e dessa vez ele também sorriu. Talvez fosse a última vez, talvez fosse uma dessas vezes ruins, só o tempo diria.

09 agosto 2005

Carne

Foi a última noite. Acordou cedo, havia dormido com a cabeça encostada no peito dele, que estava gelado. Olhou a sua volta, havia sangue no chão do quarto, nas paredes, no lençol, em seu corpo. Mas ele estava ali, imóvel, a pele muito branca e pálida, sem vestígios de sangue ou mesmo de sangue correndo nas veias. Tentou enxergar algum corte em sua própria pele, sem sucesso.
Não conseguiu mover o corpo dele dali, não tinha forças. Não conseguiu nem chorar. Percebeu que dessa vez ele tinha ido embora definitivamente, mas não tinha conseguido levar a alma dela como havia prometido; em vez disso, ele simplesmente a desfez em sangue e espalhou ali. A partir daquele dia, ela se tornou apenas carne.

Crimes passionais

Era o título da palestra que abriu a semana jurídica na faculdade. Na verdade, a palestrante foi mais vender o livro dela do que acrescentar algo novo, mas mesmo assim foi uma das palestras mais divertidas que assisti, ela era um tipo extremamente espirituoso - o que é raro em se tratando de palestrantes em Direito.
Entre os risos e os aplausos - principalmente da platéia feminina - ela foi contando casos famosos de crimes passionais, fazendo uma observação aqui e ali sobre as leis, os costumes da época e a alegação de legítima defesa da honra por parte da defesa. Segundo ela, a grande maioria dos crimes passionais são cometidos por homens, e uma das características desses crimes são que as vítimas geralmente são desfiguradas, numa tentativa do agressor de se desvincular da imagem da vítima - o que particularmente achei curioso, mas psicologia criminal não é minha área, então não vou me atrever a palpitar.
Em relação às mulheres, o índice desses crimes é pequeno - o que me causou espanto, pois achava que elas também matassem bastante por amor. Mas depois acabei lembrando que a vingança feminina geralmente se resume a arranhar o carro, fazer escândalo ou infernizar o pobre infeliz o resto da vida.
Embora uma das perguntas principais da palestra fosse sobre a possibilidade de quem ama matar, o que mais me deixou pensativa foi a diferença entre o comportamento de homens e mulheres diante da mesma situação. Por que matar se simplesmente é mais simples torturar o objeto amado aos poucos?

Começo de semana

*Tentando organizar um churras.
*Tentando disfarçar a cara de boba.
*Tentando prestar atenção nas palestras sem ficar fazendo piadinhas.
*Tentando fumar menos.
*Tentando não ficar histérica.

Respostas que eu gostaria de ter dado

- Hein, Mari, você não sente frio no peito com esse decote todo não?
- Você não sente dor no cérebro quando pensa e pergunta uma coisa dessa?

05 agosto 2005

Mais uma noite

Chegou em casa bêbada como de costume.
Tirou a roupa e jogou pelo quarto.
Vestiu a primeira camiseta que encontrou no escuro.
Deitou-se na cama e adormeceu enquanto o quarto girava.
Acordou sobressaltada no meio da madrugada.
Sentiu o cheiro dele no quarto, na cama, no lençol, na pele dela.
Chorou.
Sentiu-se um pouco mais humana.
Dormiu sorrindo, num misto de frustração pela ausência dele e felicidade por sentir algo. Talvez o amasse. Talvez fosse apenas mais um porre.

Cavalos e jujubas

- Sofrer por antecipação é coisa de gente masoquista.
- Sempre achei que fosse normal, pô.
- Normal? Acordaaa!
- Ah, tá, só um poquinho masoquista...
- ...
- Tá, confesso.
- E o futuro?
- Se eu falar o que acho, apanho.
- Pode apostar...
- Então, passe as jujubas enquanto eu tento selar o cavalo.

03 agosto 2005

Esperar

- Cadê a negra?
- Ainda não chegou...
A campainha tocou. Lá estava ela, com aquele andar estranho de sempre, parecia que ia cair do salto.
- Oi, tava sem chave...
- Vim correndo, ele não ouviu.
- Tá dormindo já?
- Não, estava esperando você chegar.
- Vou lá falar com ele.
Foi até o quarto, onde ele estava sentado vendo tv.
- Oi, general!
- Oi, preta, tudo bem?
- Jóia. Só vendo jogo, hein?
- É...
Ela saiu do quarto pensativa. Um dia chegaria em casa e ele não estaria mais lá esperando por ela. Ficou triste, mas a vida seguiu seu rumo. Decidiu aproveitar as esperas que restam.

Boletim pós-férias.

É, acabou. Voltamos à vida. Álcool só nos finais de semana, acordar cedo, dormir pouco, mau-humor ao acordar, sensação de que não vou ter tempo pra fazer nada, leituras, carro pra cima e pra baixo, menos tempo pra escutar o Kelly Jones, muitas pessoas, menos reclusão, noitadas esporádicas, estresse em épocas de provas, aumento sensível no número de tragadas. Quer saber? Amo muito isso tudo.
Só a saudade é que não passou. Mas essa é outra história. E amanhã, outro dia.

01 agosto 2005

Girl talk

Hoje de manhã, na minha enfadonha “viagem” pra Ubatuba, estava lendo uma dessas revistas femininas. Dentre os assuntos abordados, escolhi três: uma matéria sobre etiqueta sexual, dizendo o que se deve evitar ou fazer nos primeiros encontros com o cavalo do príncipe. Particularmente, achei a matéria bastante engraçada, mesmo porque um dos exemplos do que não fazer no quesito limites era não usar um vibrador sem conhecer direito o parceiro. Fiquei imaginando uma situação do tipo: você conhece um cara, o papo rola legal e vocês vão pro motel. Chegando lá, do nada você tira da bolsa o objeto, apresenta pro cara e ainda fala: “Querido, hoje vai ser à 3...”.
A segunda matéria escolhida era sobre produtos para eliminar e disfarçar olheiras, coisa que achei muito útil, já que as minhas são genéticas (descobri pela matéria) e tem dias que, por mais que eu durma bem, fico parecendo a última bagaceira que ficou na festa. Anotei o nome do creme, corretivo e vou me lembrar das compressas de chá.
Na última matéria havia 4 cardápios diferentes para diminuir o estresse, aliviar a tpm, aumentar o desejo e dormir melhor. Fiquei na dúvida: o que comer se estiver estressada, na tpm, com insônia e mesmo assim querer ter desejo pra aquela noitada com o cavalo do príncipe?
Particularmente, acho que hoje em dia as mulheres são muito cobradas e, o engraçado disso tudo, é que as cobranças partem delas mesmas (tá, a sociedade é machista, mas a mídia não é controlada só por homens). Porque chique é ser inteligente, bem resolvida, boa mãe, boa de cama, ter um corpo escultural, ser independente financeiramente, etc e tal. É uma neurose sem fim: você tem que estar impecavelmente vestida, maquiada, ter um corpo perfeito à base de dieta e malhação, ser culta, ser uma boa mãe e amante ao mesmo tempo e ser estável financeiramente. E ai de você se não conseguir se encaixar em um dos exemplos citados acima! Mesmo que se encaixe em todos os outros, o que faltou será motivo para inúmeras sessões no terapeuta, deprês e coisas do tipo.
O que eu questiono é: será que tudo vale a pena? Ok, todo mundo tem que cuidar do corpo, da mente, ser alguém na vida e etc, mas tudo precisa ser levado tão à sério assim? Quantas vezes o cavalo do príncipe já apareceu, num dia em que você estava deslumbrante pra ele, de calça jeans surrada, camiseta e barba por fazer? E aquele carinha que você namorou que não tinha um emprego tão bom, mas mesmo assim estava feliz? Quanto tempo levou pro cavalo do príncipe descobrir que a posição 29 de fevereiro era a sua preferida? Você gostou menos deles por causa disso? Será que eles eram menos realizados? Duvido muito. E também duvido muito que eles gostaram menos de você porque você se achava gorda, porque achava a sua performance horrível na cama porque não conseguiu ter um orgasmo, porque achava que não estava à altura dele financeiramente ou simplesmente porque seu cabelo tinha pontas duplas.
Acho importante ter consciência do que se quer para si, mas sem neuras. A vida é curta, então o melhor a fazer é se cobrar menos, relaxar e aproveitar o que você tem de melhor e o que a vida tem de melhor para te oferecer. Só deixo um lembrete: não é recomendável usar um vibrador na primeira vez com o cavalo do príncipe, o resultado pode ser desastroso.

29 julho 2005

Cole sua foto aqui

Ser nova e se sentir a mais a mais velha das pessoas é algo deprimente. Não sei exatamente quando foi que me tornei a princesinha cínica do castelo de gelo, só sei que o processo foi curto. É como mentir compulsivamente, você começa com uma mentirinha e quando vê, já não sabe mais discernir o que você criou do que realmente aconteceu. E isso envelhece por dentro, tenho a alma carcomida por todas as vezes em que não acreditei em quem me rodeava, por todos os risos cínicos e desânimo diante dos inícios de ilusões que eu nunca tive, por nunca me empolgar realmente com nada.
O engraçado é que sempre percebi isso como se fosse realismo. Eu não era apenas mais uma moça bobinha, ingênua, que se deixa levar pelas emoções. Era uma pessoa forte, ciente de tudo que acontecia na minha vidinha. Grande besteira...
Ainda tento descobrir quem foi ou qual situação me levou a pensar que um ar blasè, uma indiferença calculada resolveria todos os meus problemas. A solidão, o sentimento de inadequação, a timidez, a estupidez latente. Só sei que de uns tempos para cá, saí do estado vegetativo em que me encontrava; claro que não achei o ponto onde tudo começou, o que também já não me interessa mais, já que não posso voltar e não quero tentar consertar o que simplesmente não tem conserto. Mas comecei a ver o outro lado das coisas, vi que um sorriso sincero traz um pouco de paz, sonhar pode ser bom, e o melhor, os sonhos podem se tornar reais quando se luta por eles. Às vezes ainda me flagro com aquele jeitinho de "Ah, não tou nem aí!" para algo que simplesmente adoro, e consigo rir disso e parar de reprimir a empolgação. Tenho a sensação de que descobri os cinco sentidos e ainda estou aprendendo a usá-los. Sei que leva tempo mas, citando Wilde, amar a si mesmo é o começo de um idílio que dura a vida inteira.


* Dedicado a Val, a mais que amiga, confidente e mãe de plantão.

27 julho 2005

Sonho

Meus pés sangravam, mas era necessário correr. Assim como era necessário não se deixar alcançar, resistir, gritar, até agredir se fosse necessário.
Ao longo do trajeto, os dedos foram se perdendo, as solas se desintegrando... meus pés não resistiram. Os braços se soltaram do corpo como se fossem braços de boneca. A boca só conseguiu cuspir sangue. Fiquei inconsciente.
Acordei com o predador ao meu lado, na cama. Alisando minha testa, sorrindo. Olhei em volta, não havia mais ninguém ali. Não havia feridas, só cicatrizes muito discretas, estava consciente. Consciente de que não tinha mais forças. Os braços se abriram e a boca sorriu.

26 julho 2005

Dias negros.

Meu temperamento é foda. Eu deveria andar com silver tape na boca durante a tpm. E um taco de beisebol para as emergências, é claro.

19 julho 2005

Having fun?

"I'll tell another lie for you
Tell you what you wanna hear, but that don't make it true
I'll wear another smile for you
That way you know I'm fine, and having fun with you..."
I'm alright - Stereophonics


Mas a história é bem outra... quando você nota que o negócio é bem mais que diversão, é assustador. Principalmente quando é você que sente isso.

14 julho 2005

Minhas férias

É fato que a vida é minha, o pobrema e o cabelo ruim também são meus etc, etc... então, em sinal de protesto a todos os professores que desde a 5ª série não me deixam escrever livremente sobre o que eu bem entendo, achando que há alguma utilidade prática em escrever sobre o desmatamento, camada de ozônio ou coisa que valha, vou escrever sobre as minhas férias. Sim, as minhas tão lindas e sonhadas FÉRIAS, pessoas (como se para alguém que não trabalha, férias fizessem diferença). Mas ociosidade integral à parte, eu sempre faço planos mirabolantes para as férias, como se tudo fosse mudar, como se eu fosse me libertar de alguma coisa. E misteriosamente, quando as férias acabam, eu não fiz nada do planejado. No final do mês passado fiz uma lista de coisas que deveria fazer durante esse mês a fim de aproveitar o máximo. De umas 15 coisas que listei, fiz umas duas ou três, no máximo. E cheguei a conclusão de que comigo, planejamento não rola (levei uns 15 anos pra descobrir isso - eficiência é o que há). Em compensação, as coisas que não havia planejado e aconteceram foram as mais legais e não aconteceram necessariamente em férias - rá!. Daí, eu concluí outra coisa muito importante para a posteridade: eu não preciso de férias nunca, porque, pelo menos por enquanto, elas só servem para eu permanecer bêbada ouvindo Stereophonics e para choramingar de saudades de quem também saiu de férias.
"Go on and close the curtains
cause all we need is candle light
You and me and a bottle of wine
going to hold you tonight
Well we know I'm going away
and how I wish, I wish it weren't so
So take this wine and drink with me
let's delay our misery..."
Save Tonight - Eagle Eye Cherry

A música perfeita pra última noite. A música perfeita pra ouvir e sentir saudades depois.


Mulher é mesmo um bicho bobo...

06 julho 2005

Fora do ar

Felicidade faz bem, e como faz. Mas pra escrever, sou movida pela frustração. Então, nada de textos por um tempo, acho.

20 junho 2005

Pessoas que eu não entendo

As que eu mais quero entender: parece praga, mas acontece sempre.

Orquídea

Ela não conseguia parar de chorar. A despedida tinha sido a pior possível, ainda o amava. Ele se foi sem saber porque não podia ficar com ela.
Uma semana depois, ele soube que ela havia morrido atropelada horas depois da despedida. Sem conseguir se perdoar, foi visitá-la. Deixou no túmulo todo o amor que tinha e uma flor. Nunca mais conseguiu amar.

19 junho 2005

Minutos

Definitivamente, eu estou estressada.

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Eu nunca fui a noivinha da quadrilha. Eu nunca estive em uma quadrilha. Quem sabe depois que terminar de cursar Direito...

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Eu amo todos os meus amigos homens. A pior e mais engraçada coisa que acontece depois de um certo nível de intimidade é eles começarem a contar coisas do tipo "Comi fulana...". Eles perdem um pouco a noção das coisas. Eu realmente não me interesso em saber se eles fizeram folhinha verde ou goiabinha invertida. Mas às vezes é divertido ser tratada como se fosse um deles.

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Homens contam histórias sobre suas performances na cama. Mulheres também. Mas as histórias femininas são bem mais engraçadas, o parceiro sempre é o homem. Depois que a empolgação passa, ele começa a nem ser tão bom assim.

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O ciúmes é uma coisa boba, longe de mim ser ciumenta. Mas não sei que graça ele vê naquela pulguenta.

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O tempo é relativo quando se é novo. Velhice precoce diminui a expectativa de vida?

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A redenção de todos os meus supostos pecados tem rg, cpf e comprovante de residência. Quero me redimir em uma única via devidamente autenticada.

03 junho 2005

Inferno

Você dorme profundamente e de repente acorda num inferninho, completamente de porre. O ambiente é escuro, abafado, as pessoas riem, bebem, cantam num clima de celebração. Eles comemoram o nada, todas as drogas e formas de sexo são permitidas. Seus olhos se acostumam com o ambiente e você enxerga um homem velho, franzino. Algo faz você ir até ele e estender a mão, e ele te guia no meio daquela zona, entre os corpos nus, ouvindo uma música ensurdecedora. Você percebe que entre tantas pessoas, ele é o único velho ali, talvez o mensageiro ou coisa que valha.
O mensageiro te leva até um beco e lá você encontra um homem de aproximadamente 30 anos, moreno, corpo musculoso e uma expressão que varia entre cafajeste e o mais inocente dos rapazes; ele te cumprimenta com a cabeça e sorri. O mensageiro diz no seu ouvido que ele é o dono do lugar e tem uma tarefa para você, e deixa você sozinha ali, com aquele homem.
O dono não diz nada e simplesmente te entrega um envelope branco com o seu nome e uma carta. Você lê a carta atentamente, são as instruções para convivência naquele local. Ele avisa que a partir daquele momento, você não pode mais sair dali, sob pena de não poder voltar nunca mais. Você sorri, já que a idéia de ficar é extremamente atraente. Ele se despede e desaparece no escuro do beco.
Agora essa é a sua vida, você sai do beco sem rumo, vê alguns rostos que julga conhecidos, mero engano. Ninguém conhece ninguém, não há mais nomes, não há individualidade. Só há o prazer, sob todas as formas. Alguém te indica onde fica o bar. Vodca dupla, pura. Um sujeito passa oferecendo drogas de todos os tipos, você aceita um baseado pra começar. Um casal vem em sua direção, te convidando para o sexo, você não aceita. Eles te explicam que ali ninguém pode se recusar, a não ser o mensageiro e o dono. Você acha divertida essa idéia e vai...
Todos os seus dias são iguais, diversão, bebida, sexo, drogas em excesso. Mas você não quer parar, não tem vontade de sair dali, já é mais um escravo. Até o dia em que se lembra da outra vida que viveu. Há sincronicidade entre a lembrança e o súbito aparecimento do dono na sua frente. Ele fala que a decisão é sua, mas você sabe que se escolher sair, não pode mais voltar. Você escolhe sair. Ele sorri e te dá um copo d’água. Você bebe e apaga.
Acorda em um lugar escuro, úmido, apertado. Um útero. Você não sabe o que te espera...

Sempre as mesmas coisas

Da natureza de algumas relações...
Noite de sábado, elas sairiam. Já tinham combinado, era aniversário de um amigo e ficante de uma noite das duas. Seria divertido, afinal, todos os amigos estariam lá. Beberiam muito e provavelmente, na ressaca, não saberiam como tinham ido dormir em suas respectivas camas. Pelo menos era isso que imaginavam.
Noite de sábado, elas saíram. Nada deu certo: não havia festa no local combinado, nenhum dos amigos atendia o telefone ou não estavam, todas as pessoas na rua pareciam alegres demais para um sábado em que nada dava certo.
Noite de sábado, idéias brilhantes. Resolveram sair sem destino certo; quase sofreram um acidente na rodovia. Isso era viver perigosamente. Pararam em um bar movimentado, vários casais, algumas famílias, todos se divertiam bastante. Compraram duas cervejas e saíram. Sem destino, aquele era mais um sábado.Final da noite de sábado, riam juntas e bêbadas. Depois de vários bares e vários acasos, voltaram para casa, ainda conscientes. O que as mantinha unidas com certeza era um mistério, mas se divertiam assim. Havia um pacto de silêncio que não permitia que ambas se enxergassem, ou melhor, que não exergassem o contexto da vida que levavam. Mas sempre afirmavam que estava bom assim. Pagavam o preço com um sorriso e uma cerveja. Era o ritual de todo sábado.


Um ano depois, o ritual ainda é o mesmo. Mas o gosto se tornou um pouco amargo.

02 junho 2005

Esquisitice

Observei o mesmo carinha todo santo dia por uns 3 meses, pelo menos. Ainda não entendi o que foi que eu vi nele - talvez o olhar de cobiça pra cima de mim ou o fato de ser muito parecido com o dono de todos os meus delírios.
No começo a brincadeira era interessante, ele ficava lá, parado, olhar fixo em um lugar que eu nunca consegui identificar, alheio a tudo e todos. Eu olhava insistentemente pra ele, tentando imaginar o que ele fazia, o que pensava e o principal: ficava esperando ele me notar ali naquele meio, o que demorou pra acontecer. Quando aconteceu foi estranho, passei a ser o ponto para onde ele olhava, curioso. O olhar de cobiça veio depois de um dia em que eu sorri pra ele, num gesto de puro atrevimento.
O ritual se estendeu por um tempo e já conseguíamos identificar os olhares, os gestos... até que um dia ele abriu um sorriso largo e me cumprimentou. Nunca mais tive coragem de observá-lo.

24 maio 2005

A síndrome de tia varizenta (ou síndrome de 12 de junho)

É sempre assim, vai chegando perto(nem tão perto assim) do dia dos namorados e a mulherada solteira enlouquece. Bate aquele desespero e o primeiro pensamento que vem à cabeça é: todas as minhas amigas estão namorando e eu aqui, sozinha que nem a última bolacha embolorada do pacote. Nada consola nessas horas, não adianta saber que namorado de sicrana não vale nada, que o de fulana atira pra todos os lados etc, etc. O importante é estar com alguém, não importa quem. Afinal de contas, se até aquela mocréia tem namorado, por que você não?
A partir dessa perguntinha, começam a surgir todas as dúvidas possíveis: o que há de errado comigo? sou feia? meu cabelo não tá legal? sou só pra diversão? - a imaginação vai longe. E não adianta suas amigas falarem o quão bonitinha, diferente e interessante você é, porque nessa altura do campeonato você tem certeza de que seu destino é ficar velha, varizenta e solteirona que nem a sua tia. Até o dia 12 você vai remoer essa idéia, e pra melhorar a situação, no dia 12 você nem vai por os pés pra fora de casa, porque todos os lugares estarão lotados de casais felizes enquanto você, se sentindo a mais miserável das pessoas, vai estar sozinha ou com amigas mais sozinhas ainda(formando o verdadeiro clube das tias); então é melhor nem sair mesmo.
O engraçado é que depois que a data passa, você dá graças a Deus por estar sozinha, solteira e dona de si. Você é linda, seu cabelo tá maravilhoso, é você que se diverte com os meninos. E ainda fala com a maior cara de pau pra sua amiga que está namorando que não troca a sua vida por nada.

21 maio 2005

Síndrome de Peter Pan (ou seria de Sininho?)

Sempre foi muito mais fácil mostrar indiferença diante das coisas ou culpar alguém pelos meus atos (algo do tipo "Deus quis assim."*). Só que a gente sempre chega em um ponto decisivo em que não dá mais pra não assumir a responsabilidade pelas coisas. Particularmente, demorou muito pra essa idéia ocorrer aqui dentro. Achava uma m**** passar uma imagem de mulherzinha segura de si enquanto a verdade era bem outra. O engraçado dessas situações era simplesmente respirar fundo e dizer algo sensato para quem me perguntava o que eu achava sobre tal assunto, sabendo que no fundo, eu já tinha passado por isso e tinha feito algo completamente diferente do suposto conselho que tinha dado. Em suma: falava coisas legais, mas fazia m**** quando a situação era comigo.
Recentemente decidi começar a crescer(que medo!) e nesse processo se incluiu a responsabilidade sobre os meus atos. Não vou negar que não era bom não ter nenhum tipo de responsabilidade e assim ignorar qualquer tipo de culpa, mas viver o momento fora da Terra do Nunca é muito melhor, humaniza. Acho que me tornei uma pessoa mais sensata, menos alheia, mais mulher, mais eu. E isso é só uma parte do crescer, experiência que tem sido bem excitante, aliás.


*: Frase meramente ilustrativa, já que não acredito em Deus, o que tornava tudo mais sem sentido ainda. Coisas de criança.

Top 5 - músicas que andam fazendo a minha cabeça

Shadow on the sun - Audioslave
Riders on the storm - The Doors
Fuckin' in the bushes - Oasis
The rain song - Led Zeppelin
Young hearts run free - Kym Mazelle


Mistério...

20 maio 2005

Coisas que eu não entendo

A necessidade que certas pessoas têm de sempre brigar(geralmente sem motivo) pra depois fazer as pazes.

18 maio 2005

Pessoas que eu não entendo

Esquivos: esquivar-se em algumas situações é inteligência. Esquivar-se em todas é medo.

Divã de psicanalista

Não sei o que é pior: chorar de raiva, de paixão ou ser insensível.
Paga-se um preço muito alto por ser infantil no mundo dos adultos.

16 maio 2005

11 maio 2005

Rápidas

Quase não dormir durante a noite tem suas vantagens: ter tempo de sobra para refletir sobre os próprios atos e esquecê-los logo em seguida. Consciência é efêmera.

Lidar com o medo da morte nem sempre humaniza as pessoas.

Se é preciso viver para crer, há algo errado. Devo vegetar.

Se o amor é um mito como o Papai Noel, preciso construir uma chaminé.

10 maio 2005

Coisas que eu não entendo.

A capacidade que certas pessoas têm de sempre insistir no mesmo erro. Se ainda cometessem erros novos...

06 maio 2005

Resposta

"Give me a reason to love you
Give me a reason to be a woman
I just wanna be a woman"
Portishead - Glory Box


Eu gostaria de não te amar. De pensar que não há uma música que faça lembrar você. De não ter nenhuma espécie de carinho e saber que é recíproco. De saber que você não tem paciência comigo. De ter certeza que você não conhece minhas fraquezas. De não te admirar. De achar que o que nos une é simplesmente falta do que fazer ou solidão. De saber que não exerce nenhum tipo de influência ou poder sobre mim. De não morrer de saudade depois de dias distante. De negar não por manha, mas por falta de vontade. De não me sentir tão menina e tão pequena. De não saber que é impossível.

05 maio 2005

Veneno

Eu não gosto da definição de gente, pra começar. E gosto menos ainda quando a gente em questão são mulheres. Falam demais, riem demais, são complicadas demais, etc, etc. Mas uma coisa me fascina nelas: o poder de destilar o veneno. É uma das poucas coisas que as une realmente, mesmo que elas sejam inimigas, e é interessante de se ver. Participando de uma rodinha hoje, pude perceber como os olhos delas brilham, como prestam atenção umas nas outras, como os sorrisos proliferam. Em determinado momento deu até pena do sujeito, mas passou rápido. A felicidade delas era contagiante.
Destilar o veneno tem fins terapêuticos: desopila o fígado, diverte, acaba com o stress, faz bem pros olhos, pele e cabelo. Será que isso vale para os homens também?

Síndrome de felicidade

Hoje foi o dia. Daqueles em que nada especial acontece e você misteriosamente se sente a mais especial das pessoas. Tudo foi motivo pra rir ou pra se sentir bem, inclusive aquele sorriso enorme do outro lado da sala de aula. Por um dia inteiro, esqueci o senso de (mau) humor negro e a sordidez.


Evolução?

03 maio 2005

Delírio

"I can tell you why
People go insane
I can show you how
You could do the same
I can tell you why
The end will never come
I can tell you on
The shadow on the sun"
Audioslave - Shadow on the sun
Quero perder os sentidos. Enlouquecer. Sair das sombras. E ir parar no Caribe, onde os tãos sonhados drinques coloridos me esperam.

Relações que eu não entendo

Sádico masoquista + masoquista sádico: Hoje bato, amanhã apanho. Você apanha hoje e bate amanhã. Bem, pode acontecer tudo no mesmo dia. Mas a questão é: se a relação não passa disso, por que continuamos juntos?
Preciso rever meus conceitos e teorias a respeito. Afinal de contas, o que é uma relação sem amor? Prazer doentio com fim em si mesmo?

Uh, estamos evoluindo. O precipício é logo ali...

Casa nova

Vamos tentando. Casa nova, vida nova, etc..., mas a verdade é que a essência nunca muda.