20 junho 2005

Pessoas que eu não entendo

As que eu mais quero entender: parece praga, mas acontece sempre.

Orquídea

Ela não conseguia parar de chorar. A despedida tinha sido a pior possível, ainda o amava. Ele se foi sem saber porque não podia ficar com ela.
Uma semana depois, ele soube que ela havia morrido atropelada horas depois da despedida. Sem conseguir se perdoar, foi visitá-la. Deixou no túmulo todo o amor que tinha e uma flor. Nunca mais conseguiu amar.

19 junho 2005

Minutos

Definitivamente, eu estou estressada.

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Eu nunca fui a noivinha da quadrilha. Eu nunca estive em uma quadrilha. Quem sabe depois que terminar de cursar Direito...

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Eu amo todos os meus amigos homens. A pior e mais engraçada coisa que acontece depois de um certo nível de intimidade é eles começarem a contar coisas do tipo "Comi fulana...". Eles perdem um pouco a noção das coisas. Eu realmente não me interesso em saber se eles fizeram folhinha verde ou goiabinha invertida. Mas às vezes é divertido ser tratada como se fosse um deles.

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Homens contam histórias sobre suas performances na cama. Mulheres também. Mas as histórias femininas são bem mais engraçadas, o parceiro sempre é o homem. Depois que a empolgação passa, ele começa a nem ser tão bom assim.

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O ciúmes é uma coisa boba, longe de mim ser ciumenta. Mas não sei que graça ele vê naquela pulguenta.

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O tempo é relativo quando se é novo. Velhice precoce diminui a expectativa de vida?

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A redenção de todos os meus supostos pecados tem rg, cpf e comprovante de residência. Quero me redimir em uma única via devidamente autenticada.

03 junho 2005

Inferno

Você dorme profundamente e de repente acorda num inferninho, completamente de porre. O ambiente é escuro, abafado, as pessoas riem, bebem, cantam num clima de celebração. Eles comemoram o nada, todas as drogas e formas de sexo são permitidas. Seus olhos se acostumam com o ambiente e você enxerga um homem velho, franzino. Algo faz você ir até ele e estender a mão, e ele te guia no meio daquela zona, entre os corpos nus, ouvindo uma música ensurdecedora. Você percebe que entre tantas pessoas, ele é o único velho ali, talvez o mensageiro ou coisa que valha.
O mensageiro te leva até um beco e lá você encontra um homem de aproximadamente 30 anos, moreno, corpo musculoso e uma expressão que varia entre cafajeste e o mais inocente dos rapazes; ele te cumprimenta com a cabeça e sorri. O mensageiro diz no seu ouvido que ele é o dono do lugar e tem uma tarefa para você, e deixa você sozinha ali, com aquele homem.
O dono não diz nada e simplesmente te entrega um envelope branco com o seu nome e uma carta. Você lê a carta atentamente, são as instruções para convivência naquele local. Ele avisa que a partir daquele momento, você não pode mais sair dali, sob pena de não poder voltar nunca mais. Você sorri, já que a idéia de ficar é extremamente atraente. Ele se despede e desaparece no escuro do beco.
Agora essa é a sua vida, você sai do beco sem rumo, vê alguns rostos que julga conhecidos, mero engano. Ninguém conhece ninguém, não há mais nomes, não há individualidade. Só há o prazer, sob todas as formas. Alguém te indica onde fica o bar. Vodca dupla, pura. Um sujeito passa oferecendo drogas de todos os tipos, você aceita um baseado pra começar. Um casal vem em sua direção, te convidando para o sexo, você não aceita. Eles te explicam que ali ninguém pode se recusar, a não ser o mensageiro e o dono. Você acha divertida essa idéia e vai...
Todos os seus dias são iguais, diversão, bebida, sexo, drogas em excesso. Mas você não quer parar, não tem vontade de sair dali, já é mais um escravo. Até o dia em que se lembra da outra vida que viveu. Há sincronicidade entre a lembrança e o súbito aparecimento do dono na sua frente. Ele fala que a decisão é sua, mas você sabe que se escolher sair, não pode mais voltar. Você escolhe sair. Ele sorri e te dá um copo d’água. Você bebe e apaga.
Acorda em um lugar escuro, úmido, apertado. Um útero. Você não sabe o que te espera...

Sempre as mesmas coisas

Da natureza de algumas relações...
Noite de sábado, elas sairiam. Já tinham combinado, era aniversário de um amigo e ficante de uma noite das duas. Seria divertido, afinal, todos os amigos estariam lá. Beberiam muito e provavelmente, na ressaca, não saberiam como tinham ido dormir em suas respectivas camas. Pelo menos era isso que imaginavam.
Noite de sábado, elas saíram. Nada deu certo: não havia festa no local combinado, nenhum dos amigos atendia o telefone ou não estavam, todas as pessoas na rua pareciam alegres demais para um sábado em que nada dava certo.
Noite de sábado, idéias brilhantes. Resolveram sair sem destino certo; quase sofreram um acidente na rodovia. Isso era viver perigosamente. Pararam em um bar movimentado, vários casais, algumas famílias, todos se divertiam bastante. Compraram duas cervejas e saíram. Sem destino, aquele era mais um sábado.Final da noite de sábado, riam juntas e bêbadas. Depois de vários bares e vários acasos, voltaram para casa, ainda conscientes. O que as mantinha unidas com certeza era um mistério, mas se divertiam assim. Havia um pacto de silêncio que não permitia que ambas se enxergassem, ou melhor, que não exergassem o contexto da vida que levavam. Mas sempre afirmavam que estava bom assim. Pagavam o preço com um sorriso e uma cerveja. Era o ritual de todo sábado.


Um ano depois, o ritual ainda é o mesmo. Mas o gosto se tornou um pouco amargo.

02 junho 2005

Esquisitice

Observei o mesmo carinha todo santo dia por uns 3 meses, pelo menos. Ainda não entendi o que foi que eu vi nele - talvez o olhar de cobiça pra cima de mim ou o fato de ser muito parecido com o dono de todos os meus delírios.
No começo a brincadeira era interessante, ele ficava lá, parado, olhar fixo em um lugar que eu nunca consegui identificar, alheio a tudo e todos. Eu olhava insistentemente pra ele, tentando imaginar o que ele fazia, o que pensava e o principal: ficava esperando ele me notar ali naquele meio, o que demorou pra acontecer. Quando aconteceu foi estranho, passei a ser o ponto para onde ele olhava, curioso. O olhar de cobiça veio depois de um dia em que eu sorri pra ele, num gesto de puro atrevimento.
O ritual se estendeu por um tempo e já conseguíamos identificar os olhares, os gestos... até que um dia ele abriu um sorriso largo e me cumprimentou. Nunca mais tive coragem de observá-lo.