27 dezembro 2006

Natalinas...

Eu estava feliz e contente na cozinha preparando rabanadas quando me imaginei com uns 60 anos, numa cozinha lotada, preparando rabanadas pra meia dúzia de crianças. Não seria nada de mais se a meia dúzia de crianças não fossem meus netos. Na hora me pareceu uma grande realização, ter netos. Agora vejo que era só excesso de calor do fogão, mesmo.

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O Papai Noel, pra variar, não me trouxe nada esse ano. Aliás, o velhinho sacana nunca me trouxe nada; sempre soube que, na verdade, eram meus pais que traziam os presentes. E embora meu pai tivesse uma barriga pra Papai Noel nenhum botar defeito, ele nunca usaria aquela roupa vermelha horrorosa, já que isso não é coisa de gente séria(palavras dele).

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A cada ano que passa, gosto menos do final do ano. A cada ano que passa, é uma saudade a mais e uma presença a menos. Quando se é criança, os presentes fazem o sentido da festa. Mas depois de uma certa idade, a reunião da família é que passa a fazer o sentido. Quando você cria a consciência de como a sua família é, nada mais faz muito sentido. Então, uma data que já não tem muito significado(sou atéia), passa a ser somente um feriado qualquer em que se come demais, se bebe demais e se encontra alguns amigos queridos. E só.

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Odeio especiais de fim de ano. Imagino que daqui a 15 anos ainda teremos Xuxa e RC fazendo especiais. É deprimente. Xuxa com quase 60 anos falando como criança e RC chamando alguém de sucesso pro especial, porque só ele já não dá conta do recado. Aliás, ambos já não dão conta do recado há 10 anos, pelo menos. Mas enfim... tv é isso mesmo.

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A despeito de meu amargor e sarcasmo em relação ao final de ano, adoooro compras natalinas. É a melhor compensação do ano. Abençoado seja o inventor do crediário a perder de vista.

11 dezembro 2006

Diálogos sobre o não sexo.

- E aí, como foi ontem?
- Ah, fui pra casa dele, ficamos conversando a noite toda e dormimos.
- Como assim?
- Ué, conversando, tava me contando sobre a vida e coisas assim. Foi divertido.
- Mas ele nem encostou em você?
- Como assim?
- Não rolou sexo?
- Não, ué. Só conversamos mesmo.
- Tem alguma coisa errada, não tem não?
- Não, o que estaria errado, Aline?
- Ah, ele nem encostar em você.
- Por quê?
- Ué, vocês passam a noite juntos e não rola nada?
- O que que tem de mais?
- Se você acha normal...
- Acho, oras. Anormal seria achar que ele não gosta de mim só porque não transamos a noite toda, ué.
- Se você diz...

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- E aí, como foi?
- Bem, Luiz, a gente saiu e tal. Foi ótimo, ele é interessante, gostei mesmo.
- E rolou algo mais?
- Não, embora ele tivesse uma pegada. Affe!
- Por quê?
- Ah, sei lá. Aquele lance de continuidade, sabe? As coisas não são bem assim, pelo menos não quero que seja assim com ele.
- Tá certa. Tem que se valorizar. Às vezes dá certo quando rola logo de primeira, mas é muito difícil.
- Pois é.
- Tem que ser assim, ó: primeiro você vai botando fogo, aí joga água fria. Quando não aguentar mais, aí você cede.
- Hahaha.
- É verdade.
- Vou guardar pra posteridade, essa. O problema é que sempre vou me lembrar de você quando isso acontecer.
- Hahahaha...

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Só para constar: primeiro diálogo com uma amiga acerca de uma noite com o namorado. Segundo diálogo com um amigo acerca do primeiro encontro com alguém interessante.

Dores de cotovelo.

Sou fã incondicional das dores de cotovelo. Não, não estou mentindo. Não tem coisa mais divertida(depois que passa, é claro). Você se sente a mais miserável das pessoas, afinal de contas, ou ele não gosta mais de você ou ele te trocou por outra! E nesse caso, não é por qualquer uma, é justamente por aquela com a qual ele jamais teria algo. Aí você acorda invariavelmente sem vontade de respirar, de levantar... olha a figura decadente no espelho e chora... tudo lembra ele. Inclusive as coisas das quais ele não gostava, é incrível. Mas a vida continua, e você vai vivendo por osmose, contando 532 vezes a mesma história do fim pra todos os amigos e choramingando sempre que possível. E ouve 532 vezes que ele não te merece, que vai pintar alguém legal e etc. E nessas horas você pensa "Porra, eu não quero alguém legal, eu quero ele!", afinal de contas, ele é o seu número, só ele te entende, sabe te fazer sorrir, sabe fazer aquilo que você gosta na cama e uma infinidade de outras coisas. Aí bate um desespero, porque ninguém mais vai ser como ele e sim, você pensa em fazer tudo para trazê-lo de volta. Os maiores micos te parecem absolutamente normais(paixão é uma coisa que tira o senso de ridículo e a consciência das pessoas) e você vai atrás, sem sucesso. E mais uma vez... bem, perde o sono, chora, quer morrer e etc. E é nessa hora que a situação fica preocupante, porque você já não pensa, não vive, não faz mais nada.
É nessa hora que entram as amigas, sempre elas. Fazem você se produzir, sair de casa para se divertir... e você vai pro bar com aquela má-vontade descomunal. E bebe a noite toda, e disfarça, finge que se diverte, porque na verdade, você queria mesmo era estar na sarjeta com um cachorro(animais sempre entendem as nossas crises existenciais e afins) e uma garrafa de pinga choramingando e esperando ele voltar.
Ele não volta mais, e conforme o tempo vai passando, você vai ficando menos insuportável, começa a sair por vontade própria, as lembranças já não doem tanto e a vida começa a fluir novamente. E quando nota, já está apaixonada por outra pessoa. Que por acaso, também é seu número, te entende e etc. E um belo dia você vê o seu ex na rua. E não se conforma, é claro. Pensa em tudo que passou com ele e em tudo que fez para trazê-lo de volta. E nessa hora, tem vontade de abrir um buraco no chão e enfiar a cabeça ali pra não sair nunca mais. Não é possível que você tenha feito aquelas declarações, mandado aqueles cartões, tenha insistido tanto. Não é aceitável que tenha sofrido tanto, chorado noites a fio, enchido tanto o saco dos amigos. Hora de morrer de raiva de si mesma, pra logo depois agradecer por tudo já ter passado. E agradecer mais ainda por não estar com ele, afinal de contas, pô, era só aquilo? E aí você ri. Porque depois que passa, é engraçado sim. Depois que passa você vê que aquele amor todo, nada mais era que um foguinho à toa. E que o príncipe, bem, o príncipe era tudo(o cavalo dele, o rato, a abóbora), menos o próprio. E que você, bem, você continua sendo você, oras. Isso não é um conto de fadas. E você sobreviveu a dor de cotovelo e ao ridículo. Até o próximo pé na bunda, é claro.