22 março 2010

Medo

Observava a fumaça indo em direção ao teto e se sentiu extremamente só. Naquele momento, a vida em si parecia não fazer muito sentido - era hora de escolhas, e pela primeira vez, não se sentia um ser errante diante delas, que desfilavam e dançavam na névoa que se formava naquele quarto.   
A cada tragada novas possibilidades surgiam e, ao contrário das escolhas, faziam uma dança macabra e se misturavam umas com as outras, deixando aquele ambiente nebuloso, fazendo o ar pesar e seu peito doer. Na vã tentativa de puxar um pouco de ar para si, sentia seu suor evaporando e se juntando àqueles espectros de riso histérico.  
Seus sentidos a abandonavam quando sentiu a mão dele pesando em sua coxa; por um momento, havia esquecido aquele corpo ao seu lado, e ele agora a libertava daquele transe, tateando sua pele, sorrindo e balbuciando coisas que ela não entendia. Encostou a cabeça em seu peito, se sentiu segura e deu sua última tragada, apagando o cigarro no cinzeiro ao lado da cama. E na medida em que a fumaça se dissipava na névoa, o corpo daquele homem se dissipou. E observando a névoa que se formou, ela constatou que não se sentia só. Estava.

Um comentário:

  1. É que às vezes, as palavras tem outro sentido, mais que medo, acho que era confirmação, amadurecimento, evolução, E quem pode estar só quando está consigo mesma, sempre?

    Beeeijos!!

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