30 julho 2007

Dos parentis andantis, mamis descontrols e outras coisas...

Segunda boa é segunda que começa com tudo fodendo a vida da gente, fala sério. E eu bela, esparramada na cama com meu gato e meio dormindo quando ouço: "Chama a Mariana pra almoçar, ela já tá atrasadaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Já são onze horas!", e respondo ainda dormente: "Já tou acordadaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Já tou indo!" E penso: puta que o pariu, é hoje. Um monte de zica pra resolver e já tou atrasada.
Levantei, tomei café (meu estômago aguenta cerveja no café da manhã, mas comida, nem a pau...) e fui me tornar uma mulher razoavelmente apresentável. Aí ouço uma voz diferente conversando com meu pai... legal, visita... (Pausa para explicar que sou uma pessoa ranzinza, odeio visitas na hora do almoço, principalmente quando não avisam. E já diziam os antigos que horário de almoço não é hora de ir na casa dos outros, principalmente sem avisar. Não é negar comida nem nenhuma tosquice do tipo, é só uma questão de formalidade, educação e vamo lá, né? É melhor avisar do que chegar do nada e comer arroz e ovo... hahahaha).

Mas enfim, o cara estava lá: um rapaz magro, alto, loiro, cabelos compridos, desgrenhados e grisalhos, olhos muito azuis, pele branca maltratada de sol. Parente distante dessa pessoa multiétnica que escreve aqui; pelo menos, temos o mesmo sobrenome. Vive andando a pé pelo Brasil a procura de outros iguais espalhados por aí. Caiu de pára-quedas aqui há uns 4 anos e desde então sempre passa por aqui pra contar suas histórias, recitar poemas na hora do almoço e ouvir histórias do meu pai. Particularmente, acho que ele é um ser totalmente alheio ao mundo: olhar parado, distante, uns papos desconexos sobre utopias - o moço uma vez me disse que sonhava em ir a Cuba para ver como as coisas funcionam por lá, pois acreditava que o socialismo/comunismo/qualqueroutroismo era o regime ideal para o mundo todo -, fã de Roy Orbison e Elvis, livre de vícios. Uma figura um tanto quixotesca, por assim dizer, mas uma boa pessoa. Conversava animadamente com o pápis, contando suas últimas andanças quando o cumprimentei e fui até a cozinha conversar com a mamis(péssima idéia).

Eis que na cozinha, pergunto das moedas que estavam no bolso da minha calça(precisava delas pra comprar cigarro, odeio trocar 50 pilas) e me deparo com um ser que não era a mamis. Parecia mais uma dessas possuídas de filmes de terror:
"Eu peguei suas moedas sim, mas você tem dinheiro!"
"Mas o que você tem que ir mexer nas minhas coisas?"
"Você me deve 20 reais!!"
"Mas eu vou te pagar, que coisa! Quando receber, já tinha dito! Eu só quero as moedas!"
"Mas eu gastei as moedas! E pega esses outros dez reais que peguei lá e vá pra puta que te pariu! (joga o dinheiro longe) E não me enche mais o saco! Você vai ver só, não te empresto mais nenhum tostão!"
(nesse momento eu vi que tinha algo queimando na panela...)
"Mamis, o brocólis queimou..."
"Mas que merda... também, o que é que esse povo tem que vir fazer aqui na hora do almoço? Não tem o que fazer, não?"
"Ué, eu que sei? Faz outra coisa..."
"Fazer o quê? Isso não são horas!"
"Mas, mãe..."
"Que merda!!! Tou de saco desse povo, do seu pai, da sua irmã, de você, de tudooo! De ter que agradar todo mundo! Filhos da puta!"
"Mãe, a visita tá lá em cima!"
"Ah, foda-se a visita! Foda-se você também!"
(bateção de panelas)
"Calma, mamis, faz outra coisa..."
"Eu não vou fazer merda nenhuma!"
(nisso passa a empregada, branca que nem uma cera de medo da possuída)
"Calma, Dona Eliana, vai dar tudo certo, a gente faz outra coisa. Deixa aí que eu faço o almoço pra senhora..."
"Fazer o quê? Eu não vou fazer é nada! Que vá todo mundo comer no inferno!"
(e fica andando pra lá e pra cá de raiva na cozinha)
...
"Bom, eu vou é trabalhar, sabe? Que já tou atrasada... e não esquenta a cabeça..."
"É porque não é você que tem que aguentar todo mundo, né?"
"Ai, mãe, tchau que eu também já tou de saco cheio dessa merda toda. Num faz almoço, num faz merda nenhuma. Eu tou indo..."
(e ela ficou lá, bufando e resmungando)

Subi, me despedi do moço e do papis - ambos com cara de paisagem, não tinham ouvido a gritaria lá embaixo das duas descontroladas. E eu fui trabalhar a pé (de tanta raiva, achei que subir a ladeira me faria bem), com uma blusa só (tá um frio descomunal aqui mas tava sentindo calor), troquei 50 mangos pra comprar cigarro e fui bufando. Cheguei no topo da ladeira sem ar, resmungando pela rua, amaldiçoando o diabo a quatro... desci até a prefeitura atrasada como sempre. Quando bati o ponto, pensei "agora é a hora que vai começar a terminar de foder, só vai vir pepino pra resolver hoje... deus me dê paciência...". Mas o dia no serviço foi tranqüilo, fui me acalmando conforme ia conversando e passei a tarde dando risada pro mundo e do mundo. Vim embora tremendo de frio(gente burra tem que pastar) e a pé... mas já tava feliz e contente.

Em casa de novo... mamis abre o portão. Sim, a mamis, porque o ser que tinha possuído o corpo dela já tinha saído (alguém deve ter cantado pra subir...). Fomos tomar café juntas, como fazemos todas as tardes e minha tia também estava aqui. E entre gargalhadas, comentamos o ocorrido na parte da manhã, desfizemos a confusão por causa das moedas(eu só queria as moedas, nada mais), acertamos um outro assunto e falamos do parentinho. E rimos muito, porque as coisas são assim mesmo. Tem dias que a gente acorda e não sabe porque, mas quer que o mundo se foda. Mas aí, a gente briga, diz o que sente e tudo se resolve. E no final das contas, dá risada de tudo isso. Inclusive da filha monga que passou frio e da mãe descontrolada com panelas. E de moedas.








*Notinha linda de rodapé: quem tem mãe, tem. Não importa onde, como e porquê. Não importa os descontroles, as moedas e todo o resto. São os melhores seres de amor incondicional. São o dom do amor maior. Eu invejo as mães, notem bem, aquelas que têm o dom, porque parir qualquer uma faz. Foda mesmo é querer matar a própria filha e no final da tarde já ter esquecido, sentar-se, conversar, rir e compreender. Eu amo minha mãe. Muito. Amo minha mãe dois também. E acho tudo de lindo as amigas que são mães. E é isso.

3 comentários:

  1. Anônimo10:39 AM

    Menina... Tinha um coment ja em mente sobre dizer o que pensa e tals, que faze bem a alma apesar de as vezes criar inimigos... mas sua nota de rodape me derrubou... Minha mae é simplesmente maravilhosa, e me arrependo de tanta coisa que fiz pra ela na epoca de adolescencia... Vou ser mae... decidido!

    ResponderExcluir
  2. Anônimo3:20 PM

    Putz! Vc tá corrompendo minha amiga obesinha! Tá querendo até perpetuar a espécie!!! huahuhau
    Amanhã vamos almoçar na sua casa! E não quero brocolis queimados!
    huahuahau

    ResponderExcluir
  3. Eu tomo cerveja no café da manhã, como brocólis queimado e ainda contribuo com uma pratinha... E ainda choro, por tudo, conforme lhe disse, coisa mais linda tudo isso aqui. Desde quem escreve, o que escreve, porquê escreve e para quem escreve.
    Sabia que eu amo você?
    Vou lhe dar o Lê de presente, porque você é a pessoa mais linda do mundo. E comunas não comem criancinhas, viu?
    Beijinhos.

    [snif! só porque a pessoa está sensibilizada, com os nervos á flor-da-pele... ai, ai]

    ResponderExcluir