27 novembro 2007

É muita informação pra minha cabeça...

... e tou ficando velha. Estava me lembrando hoje que eu sou do tempo da datilografia; aprendi a escrever à maquina numa Olivetti do tempo do meu pai, que tinha as teclas cobertas por adesivos e vivia com o carro emperrado, um luxo. Tempos depois tive minha própria Olivetti, verde, portátil que até hoje não sei onde foi parar. Achava o máximo entregar trabalho na escola batido à máquina e fiquei muito feliz quando ganhei o certificado da máquina comum e fui aprender a usar a máquina elétrica. Ainda tenho os dois certificados perdidos e amarelados em algum lugar aqui.
Sou do tempo em que tínhamos um grupo para trabalhos no colégio. Aliás, como não tínhamos essa facilidade de achar todo um trabalho pronto em meia dúzia de cliques, então o jeito era nos reunirmos(éramos 5 meninas na formação completa da sétima série do primeiro grau; quando o trabalho era em dupla, uma amiga e eu íamos sozinhas) na biblioteca do seminário aqui perto. Nosso grupo já era conhecido da bibliotecária, que era mãe de uma amiga que tinha se mudado de colégio. Sempre muito educada e paciente, se desdobrava pra achar o que gente precisava, emprestava o livro pra tirar xerox e recortar figuras, deixava a gente entrar entre as estantes abarrotadas de livros sobre assuntos que a gente nem fazia idéia e pesquisar, folhear com curiosidade e perguntar pra ela coisas que não sabíamos. Pássavamos a tarde toda entretidas com os livros e conversinhas sobre outros assuntos aleatórios, tipo a festinha de garagem do fim de semana ou quem ficou com quem.
Às vezes, quando o trabalho exigia um número maior de participantes, especialmente quando fazíamos jornal falado ou quando os meninos precisavam de nota, eles participavam e era uma farra. Sempre faziam alguma piadinha, ficavam cutucando e a gente ria a tarde toda. Depois que terminávamos, eles se juntavam aos outros meninos da sala que estavam fazendo aulas de educação física na quadra e no campo do seminário(nosso colégio não tinha quadra) e íamos assistir, dar palpites e suspirar pelos meninos bonitos das séries seguintes.
Pensando bem, éramos uma combinação um tanto estranha, meio à la Spice girls: a Dana e a Suli eram lindas, as capitãs dos times de tudo que era esporte; a Ximene era meio molecona, engraçadíssima e todos os agitos e bailinhos concorridos/comentados eram feitos na casa dela; a Dani era a cdf oficial, mais séria, responsável e tudo tinha que ir perguntar pra mãe dela; pra completar o quinteto, tinha eu... desengonçada, aérea, variando entre intelectual e porra louca, sempre agitando a bagunça com os meninos e onipresente em tudo quanto era coisa de escola, festinhas e afins. Fui o caso típico de reunião de pais em que o professor dizia "Sua filha é extremamente inteligente, mas tem umas companhias...", quando na verdade, era eu que geralmente agitava a bagunça junto com o povo. Mas, retomando, éramos as superpops da sala e quando nos juntávamos, éramos imbatíveis - pra desespero do grupo dos meninos, já que as cinco, além de tudo, eram estudiosas. Me lembro até hoje de um jornal falado que fizemos e que foi comentado na escola toda: a Suli falava de economia e era repórter do caderno cultural, a Dani era o nosso Bonner e ia passar uma receita de bolo(éramos precursoras da Ana Maria Braga!), a Ximene comentava sobre esportes e notícias regionais, a Dana sobre política e eu faria o papel de uma artista pro nosso caderno cultural, falando da minha exposição sobre Folclore Nacional(passei uns 3 dias pintando Iara, Curupira e afins em cartolina para parecer arte moderna).
A cereja do bolo nessa apresentação eram os comerciais, que ficavam pra Dana e eu apresentarmos. Pra essa, em específico, havíamos escolhido um comercial do Banco Bamerindus* que tinha um velinho surdo(eu) que ficava o tempo todo gritando "Hein?!" e uma velhinha (Dana), que ficava ouvindo uma vitrolinha e gritando "Som, vitrola! Lembra, Adolfo, aquele som que a gente tava juntando dinheiro desde o nosso casamento? Comprei!", era impagável. O outro comercial era o do gordinho da Honda, que eu ia fazer sozinha, também era muito engraçado. Conseguimos uma caracterização perfeita dos velhinhos(ensaiamos bastante) e todo mundo parou pra rir; logo depois, na outra chamada... eu apareci vestida com uma camiseta preta e naturalmente gordinha fazendo a coreografia do carinha da Honda, foi hilário. A aula parou literalmente, até hoje lembro da cara da minha professora, a Dona Miriam, rindo.
Eram bons tempos. Hoje, cada uma tomou um rumo completamente diferente na vida e mal nos falamos, na verdade: a Dana fez Educação Física, a Dani é PM, a Suli se casou e cuida do hotel da família, a Ximene se formou em Administração e tava fazendo Direito comigo, logo que voltei pra faculdade, mas acabou saindo do curso. E eu, bem... fiz Direito e parei, tive um caso rápido com o Jornalismo que não durou muito e voltei pro meu amor. E conto histórias aqui.



*infelizmente não achei o comercial do Bamerindus no youtube.

Um comentário:

  1. Que texto lindo, você é uma excelente contadora de histórias.
    Tem um livro da Ecléa Bosi, Memória & sociedade: lembranças de velhos, onde ela recria a Sao Paulo dos anos 30, a partir das histórias contadas de 7 velhos e velhas. Um livro lindo, um dia qdo tiveres tempo e vontade, leia-o, vc vai gostar.
    Eu particularmente sou apaixonada pelo tema MEMÓRIA(S).
    Beijo, flor.
    ;)

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