03 setembro 2007

Chuva

Em dado momento, os dois decidiram abrir a janela e ficar observando a chuva fina em silêncio, absortos em seus próprios pensamentos. Ela pensava em como dizer a ele que não estavam mais sós; que dentro de alguns meses haveria uma outra vida ali que tomaria conta da vida dos dois. Imaginava-se com a barriga crescida, procurando detalhes para decorar o quarto daquela vidinha que já começava a tomar conta da vida dela logo no café da manhã, tornando-o um tanto incômodo. Suspirou e voltou o olhar para ele, que parecia estar muito longe dali. Seus olhos, que geralmente eram tristes, estavam perdidos e parados em algum ponto que ela não conseguiu identifcar.
Ele pensava em como ela andava estranha nas últimas semanas - quase não o tocava, irritava-se facilmente com qualquer coisa que ele dizia e inventava desculpas que custavam a ser engolidas quando ele perguntava o que havia de errado. Não saber o que estava acontecendo o deixava perdido; pensava que talvez ela já não gostasse mais dele e isso doía. Tentava se acalmar pensando que isso era uma fase e que as coisas voltariam ao normal, era só ter um pouco de paciência. Suspirou e voltou o olhar para ela, que o observava com estranheza.
A chuva engrossou, entrando pela janela e molhando ambos, que permaneciam imóveis, se encarando como desconhecidos. Ela sentiu uma dor aguda no ventre e o abraçou, na esperança de que ela passasse. Ele a abraçou tendo a certeza de que tudo ficaria bem. Quando se soltaram, ambos viram o sangue nas roupas dela. A vidinha que ali vivia também havia pensado e concluiu que era melhor ir embora, antes que um dia tivesse a oportunidade de observar a chuva numa madrugada fria.

Um comentário:

  1. Ir embora... Nunca achei essa a melhor saída. Será que a vidinha que se foi pra não ficar olhando absorto ou absorta num tempo vindouro,não teria razão?

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