12 junho 2007

Animus escrevendi

Comecei a escrever aos 11 anos, acho. Ou doze. Eu sei que comecei porque na época assistia Confissões de adolescente e tinha um episódio em que uma das meninas escrevia um diário e eu achei legal e resolvi adotar também. E de lá até os 21 anos escrevia compulsivamente todos os dias. Tinha vários diários, nos mais variados formatos... eram agendas, cadernos, blocos de anotação... todos extremamente coloridos e enfeitados, dependendo da ocasião. Mas eram tão somente anotações pessoais... aquelas coisas "Hoje eu fiz isso, aquilo e me sinto assim...", "Me apaixonei pela enésima vez essa semana pelo fulaninho...", algumas cópias de textos, poesias, letras de músicas.

Além do ritual de canetas coloridas, fotos, adesivos, colagens e etc, uma coisa que me dava muito prazer era queimá-los no ano seguinte. Sim, eu passava o ano todo escrevendo impressões para no outro ano queimar o caderno; era o meu próprio ritual de passagem. Ainda me lembro da sensação que tinha ao ver as lembranças se consumindo, costumava ser libertador. E era o divisor de águas, porque a partir dali eu era outra pessoa.

No ano de 2003 encerrei os diários porque já não me davam mais prazer, parecia mais uma obrigação de escrever sobre o nada, não tinha mais a mínima graça. Ainda tenho dois diários que vão do período de janeiro de 2001 até o final de 2003. Não sei porque não os queimei; talvez inconscientemente seja aquele lance de ter um passado, de saber de onde eu vim e quem eu era.

Ontem, depois de ler o comment do Takeda no post anterior, resolvi caçar os dois diários e os li. Foi um reencontro com uma pessoa que eu não conheço mais: uma menina confusa, se sentindo inadequada, em dúvidas no começo da faculdade, cínica e fazendo cara de tédio pro mundo porque o mundo realmente era um tédio. E sofrendo de um louco amor por alguém que putz, não valeu a pena mesmo. Mas na época... era o amor perfeito. E foi bom relembrar velhas experiências, que na época eram novíssimas. Acabou vindo um flash desde os 11 anos: primeiro amor, primeiro pé na bunda, crises existenciais, família, decepções com amigas, primeiro beijo, primeiro homem, álcool e outras experiências aleatórias. Foi como acompanhar o crescimento de outra pessoa. E foi divertido, admito.

Em 2004, blogs eram a cereja do bolo e resolvi voltar a escrever, mas com outras intenções, que não eram terapêuticas, por assim dizer. Como sempre gostei, queria desenvolver contos ou algo assim. E montei esse espaço aqui, na época no uol. De lá pra cá, aprendi muita coisa lendo outras pessoas. Tendo outras impressões e experiências. Depois que você amadurece... o pessoal não é dizer "Hoje eu fiz isso ou aquilo ou sinto isso em relação a fulaninho", o mais pessoal mesmo é acabar passando todas as impressões sobre o mundo de maneira impessoal, escrevendo um conto, por exemplo. E de uns tempos pra cá, eu ando feliz, as coisas andam fluindo, então... eu falo demais, escrevo demais, sinto demais também... hahaha. E assim as coisas vão indo. E o mais legal é que tenho todos os textos, desde 2004 até agora, e dá pra notar muita diferença. É gostoso ver que a gente melhora com o tempo e desenvolve uma maneira de colocar tudo pra fora. E me divirto. Muito. Porque no dia em que não rolar mais tesão em escrever... bem, eu ponho fogo em tudo e me transformo em outra pessoa. Ou melhor... ponho fogo simbolicamente apertando o delete na hora de excluir esse espaço. E vida nova!




*A todos que leram, lêem, incentivam, comentam e afins. Faz parte do processo dividir. Obrigada pelo incentivo. E obrigada em especial, ao Takeda. Me fez ver um filme muito bom de quase 15 anos.

3 comentários:

  1. Anônimo11:54 AM

    Tenho minhas agendas guardadas num canto da casa da minha mae desde os 12 anos... Nelas tem colado desde pedacos de carenagem de moto [que o carinha que eu "amava" na epoca caiu e eu rapidinho peguei] passando por bombons e coisa e tal... Quando eu fumava um back colocava o desenho de uma arvore [e pelo jeito eu fumava pracaralho pq aquilo parece uma selva]. Beijava muito tbm, pq pra cada cara que eu beijava, tinha colado um "beicinho", e tá uma beiçada só. Infelizmente não metia [sim! Casei quase virgem!!!]... Ter lembrancas é muito bom... Saber queimar as lembrancas é melhor ainda... Eu me preparo pra isso...

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  2. Anônimo12:19 PM

    Eu tive diários tb! Mas não podia me revelar neles porque minha mãe sempre os achava e lia, e escrevia por cima e me dava lições de moral que nunca me serviram pq eu já tinha decorado todas as falas do teatrinho...A maioria era escrito em código...e não vou perder um ano da minha vida tentando decifrá-los...então já era!!!
    Mas coitada de mamis, por causa dessas enrolações superficiais hoje, ela acha que me conhece mt bem, qd na verdade, é a pessoa que me conhece menos!
    E a luha ter casado quase virgem é igual a ver um papai noel! kkkkk

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  3. O Takeda citado sou eu mesmo? Ôxi, mas não precisa me agradecer, pois escrever e comentar em blogs é um prazer, pra mim.

    Não, pensando bem, pode me agradecer sim... pagando uma(s) rodada(s) de cerveja! (risos)

    Mas vamos ao post:
    Esse ritual da queima é bem assim mesmo do jeito como vc descreveu; pelo menos foi como me senti quando queimei as fotos da minha ex, heheh.

    E tem mais é que escrever mesmo, porque se a gente pára, perde a chance de evoluir, acredito que tanto como escritor (ou "escrevinhador", como me defino) quanto como pessoa. Acredito que desenvolvemos o senso, e o bom senso. Tal qual vc também já olhei escritas antigas minhas e fiquei satisfeito ao notar o progresso; além de estarmos pensando melhor, estamos escrevendo melhor, também.

    É isso aí. ; )

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