18 junho 2007

Sabado...


O dia amanheceu tão logo o cheiro de café invadiu minhas narinas, vindo de algum apartamento vizinho. Não tem como permanecer deitada, com um aroma desse alastrando-se em minha vida. Sol por todo lado, um céu danado de azul, e eu tinha que levantar.
Arrumar a mesa, descascar frutas, pôr os pães, queijos, presunto, café, leite, fritar ovos, fazer o suco; vou ao quarto das meninas, uma das camas vazia, ué?! Pergunto-me, onde está Maria? Carolina toda enrolada (com frio), a gata ainda na minha cama, entre os pés da Bárbara (não sem antes ter feito um escândalo para estar conosco, gata folgada), adoro quando elas dormem comigo; enquanto arrumava a mesa para o desejum das meninas, e do Filipe Augusto, ponho uma música pra tocar, uma que acordou comigo: Dont’ t let me be misunderstood, mas tinha que ser com Santa Esmeralda. Não servia com a Nina Simone, Joe Cocker, The Animals, Elvis Costello, Ângela Rô Rô, Edson Cordeiro. Não, não servia, tinha que ser com o Santa Esmeralda. E assim fiz. Tecla repeat. Perdi a conta de quantas vezes ouvi essa música, logo cedo. E ela foi me invadindo, tomando conta de mim, meu corpo criou vida própria, é, isso mesmo, eu estava dançando sem saber em que momento comecei, parece coisa de demente, mas é, perdão, eu sou demente. E a música coordenava meus braços, mãos, pernas, o corpo inteirinho. Levantava a barra do vestido e fazia um bailado só meu, pela sala, a música me coreografava, me desenhava, e eu fazia algumas linhas e formas no ar com as mãos. E antes que eu me desse conta, tão logo levantei ‘as vistas’, havia uma platéia nos apartamentos em frente ao meu, observando minha performance de dançarina, não dei a mínima. Mas notei a lágrima nada provocada, que saía furtiva, pelo cantinho dos meus olhos miúdos; talvez embalada pelo momento, mas dum tempo passado, onde dançar com o Santa Esmeralda, nas tertúlias aos sábados, era a única coisa que importava. E um mundo inteiro pela frente, nenhuma preocupação de gente grande. Não senti dor, nem alívio, nem raiva, nem tristeza, apenas senti a vida brotando de dentro de mim como nunca, e o passado descompromissado, ficou em seu devido lugar. Lá atrás. Sei que ele tornará a voltar, para que eu reafirme quem sou, o que quero, e como quero. Uma súbita alegria tomou conta de mim, e nesse momento, da dança, da música, do reencontro comigo mesma, com o espelho ali denunciando a mulher que sou, deparei-me com um par de olhos castanhos, sorridentes, uma boca rosa controlando o riso, a longa madeixa loira, assanhada, a face corada, com pacotes nas mãos. Era Maria que acabara de chegar do supermercado. Riu da cena, e chamou-me à cozinha. Saí do meu transe setentista e deixei as lembranças de volta no passado. Hora de preparar a lasanha, ela me dando ordens e eu cumprindo-as. E o dia transcorreu calmo, numa atmosfera lúdica. Jogamos ‘Master’ – eu, Filipe Augusto e Bárbara -, ganhei todas, fizemos pipoca, tomamos coca-cola, Maria e Carolina juntaram-se a nós na sala, assistimos filmes e o dia findou como amanheceu: preguiçoso, musical e cheio de vida. E o amor do lado, entre, juntos.

http://www.youtube.com/watch?v=nElp_tz4WI8


Um comentário:

  1. Que raro te encontrar por aqui, Val.

    Ah, essas músicas...
    Algumas são mesmo inexplicavelmente transcedentais... e que maravilhosa terapia...

    (: )

    ResponderExcluir