27 maio 2007

A horse with no name

E diante da curiosidade das pessoas, aquele cavalo vertia sangue pela boca e agonizava. A cada espasmo, mais pessoas se reuniam em volta dele, discutindo o que poderia ou não ser feito ou simplesmente observando seus últimos movimentos. Não conseguia relinchar, dar coices ou fazer qualquer outra coisa, só movia as patas e a cabeça na vã tentativa de sobreviver. E os abutres parados ali, observavam a exaustão e discutiam se era melhor sacrificá-lo ou se ainda era possível fazer alguma coisa; alguns fizeram daquilo uma espécie de espetáculo da natureza; uns outros pararam ali só para papear mesmo - desgraça sempre é motivo para conhecer pessoas, opinar - mesmo que não entenda lhufas do que está acontecendo. E enquanto as pessoas se voltavam para os seus umbigos e para sua natureza egocêntrica que não resolve nada, o cavalo fez seus últimos movimentos e se depediu do show. E as pessoas continuaram ali, conversando animadamente, umas rindo, umas indignadas. Ninguém percebeu quando o corpo sem vida do cavalo foi retirado dali - tinham coisa mais interessante para discutir, suas próprias vidas que agonizavam sem que eles percebessem.

2 comentários:

  1. Falou em cavalo, lembrei do ex-presidente Figueiredo. Nada a ver, né.


    Ou, como diria a molecada: "Nada haver", hehe.

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  2. Anônimo3:58 PM

    E se esse miserável cavalo, latino-americano, brasileiro, fosse o cavalo 'da casa hohenzollern'? Uma reencarnação? Cavalos reencarnam? Não sei. Mas se reproduzem, sei de milhões de cavalos em todos os lugares do planeta, em todos os continentes, desde os desenvolvidos aos mais miseráveis q nem esse miserável cavalo q agonizante serviu de significado para a vida vazia de muitos seres zumbis, vazios, cheios de nada.
    Ou se fosse o cavalo de 'Guernica'? Aquele imortalizado por Picasso? E esses tantos cavalos que apreciavam o bizarro espetáculo do cavalo que se ia, devem ter uma mutação perversa em seus genes, um dia serão também as personagens d'algum espetáculo.

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